Os Estados Unidos acusaram, nesta terça-feira (23), Moscou de planejar uma intensificação iminente dos bombardeios na Ucrânia, onde a guerra entra em seu sétimo mês, enquanto a Rússia respondeu que não terá "piedade" com os assassinos de Daria Duguina, filha de uma ideólogo russo próximo ao Kremlin.
A embaixada americana em Kiev alertou que a Rússia está disposta a intensificar os bombardeios "nos próximos dias" na Ucrânia e pediu para que os cidadãos ucranianos deixem o país o quanto antes pelos "meios de transporte terrestre privados disponíveis".
Após o recuo das forças russas dos arredores de Kiev no fim de março, os principais combates se concentram no leste da Ucrânia, onde Moscou avançou de maneira lenta até chegar a uma fase de estagnação, e no sul, onde as tropas ucranianas anunciaram uma lenta contraofensiva.
"Devemos estar cientes de que provocações russas repugnantes e bombardeios brutais são possíveis amanhã", alertou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em sua tradicional mensagem noturna.
Zelensky referia-se ao aniversário da independência da Ucrânia, nesta quarta-feira, que coincide com os seis meses do início da invasão russa.
"É claro que responderemos a toda manifestação de terrorismo russo", completou o presidente da Ucrânia, que durante o dia reuniu-se com o colega polonês, Andrzej Duda, um de seus principais apoiadores.
- "Nenhuma fraqueza" -
O presidente francês, Emmanuel Macron, também endureceu o tom e urgiu a comunidade internacional a não mostrar "fraqueza" na queda de braço com a Rússia, em um discurso exibido por vídeo aos participantes na conferência da Plataforma da Crimeia, em Kiev.
Macron garantiu que o apoio da UE à Ucrânia na luta contra a invasão russa continuará "a longo prazo".
"Nunca reconheceremos qualquer tentativa de mudança de status de nenhuma parte da Ucrânia", afirmou o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, cujo país enviará novas armas a Kiev no valor de 500 milhões de euros com entrega prevista para 2023.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou em entrevista à AFP que Putin aposta na "relutância" dos europeus em arcar com as consequências econômicas da guerra.
Com isso, Borrell insistiu que a união entre os 27 países do bloco é uma missão que deve ser reafirmada "diariamente".
Borrell também afirmou que Putin "está brincando com fogo", em referência à central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, a maior da Europa, ocupada por tropas russas desde março e que ambas as partes acusam-se mutuamente de bombardear.
- Julgamento de prisioneiros de guerra -
A ministra francesa de Relações Exteriores, Catherine Colonna, abordou por telefone com seu colega russo, Serguei Lavrov, uma possível visita de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à central de Zaporizhzhia.
Essa visita, que busca "diminuir o risco de um grave acidente nuclear na Europa", poderia acontecer "em alguns duas caso as negociações em andamento cheguem a uma conclusão positiva", indicou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi.
Já a ONU mostrou preocupação com a possibilidade da Rússia julgar prisioneiros de guerra ucranianos na cidade de Mariupol, capturados em maio.
"O direito internacional humanitário proíbe a criação de tribunais destinados unicamente a julgar prisioneiros de guerra", declarou uma porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
- "Morreu no front" -
Em Moscou, centenas de pessoas assistiram ao funeral de Daria Duguina, filha do ideólogo e escritor ultranacionalista Alexander Duguin, assassinada no sábado na explosão de seu carro perto da capital russa.
Duguina, jornalista e cientista política de 29 anos, era, assim como o pai, uma fervorosa apoiadora da invasão russa da Ucrânia.
"Foi um crime bárbaro, para o qual não há perdão possível. Não pode haver misericórdia para os organizadores (do ataque), nem para quem o encomendou, nem para quem o executou", afirmou Lavrov.
"Ela morreu pelo povo, pela Rússia, no front. O front é aqui", afirmou Dugin.
Os serviços de segurança russos (FSB) afirmaram na segunda-feira que o atentado foi preparado e executado pelos serviços de inteligência ucranianos. A Ucrânia o desmentiu e acusou a Rússia de ter cometido esse crime para tentar remobilizar a opinião pública.
"É claro que não é nossa responsabilidade. Não é uma cidadã de nosso país, não nos interessa", respondeu secamente Zelensky nesta terça-feira.
* AFP