Uma série de incidentes durante a distribuição do material eleitoral no Quênia alimentou as incertezas sobre a realização de eleições fundamentais na terça-feira (9).
O material eleitoral foi distribuído nos 46.229 locais de votação, que permanecerão abertos na terça-feira de 6H00 às 17H00 (0H00 às 11H00 de Brasília). E muito está em jogo para grande motor econômico do leste da África.
No total, 22,1 milhões de eleitores devem votar para definir o presidente, os parlamentares, governadores e quase 1.500 cargos locais.
A Comissão Eleitoral (IEBC, em inglês) afirmou que algumas cédulas continham erros, como fotos errôneas dos candidatos, para o qual cancelou a votação até segunda ordem de quatro eleições locais (incluindo na cidade portuária de Mombaça). Um kit de votação eletrônica também desapareceu e seis funcionários do IEBC foram presos por supostas reuniões com os candidatos, o que aumentou as suspeitas sobre esse órgão desacreditado.
A votação encerrará uma longa campanha, que começou muito antes do período oficial, em um contexto econômico marcado pelo aumento do custo de vida, devido à pandemia e as consequências da guerra na Ucrânia.
Dos quatro candidatos, dois são considerados favoritos: Raila Odinga, 77 anos, que disputa a presidência pela quinta vez, e o atual vice-presidente, William Ruto, de 55. Dois veteranos políticos que travam uma batalha de resultado incerto.
Nos últimos meses, os candidatos participaram de vários eventos eleitorais, de vilarejos isolados até bairros das periferias do país, que tem desigualdades flagrantes e com salário mínimo de 15.120 xelins (124 euros).
As divergências também se espalharam pela internet, acompanhadas por um fluxo interminável de mentiras.
No domingo, os favoritos divulgaram suas mensagens finais de campanha. Durante uma cerimônia religiosa, William Ruto desejou que "cada queniano (...) seja um mensageiro da paz".
Raila Odinga defendeu um "país unido", antes de recordar que os compatriotas são "em primeiro lugar quenianos, antes de integrantes de qualquer outra comunidade". Na República do Quênia e suas 46 tribos, a etnia é um fator chave no momento da votação.
- Eleições "diferentes" -
O país ainda lembra da saga eleitoral de 2017, quando a Suprema Corte invalidou o resultado devido a irregularidades, algo inédito na África. À espera da segunda votação, manifestações da oposição foram duramente reprimidas pela polícia e terminaram com dezenas de mortos.
Em 2007-2008 foram registrados confrontos étnico-políticos que deixaram mais de 1.100 mortos e centenas de milhares de deslocados.
Desta vez, os pedidos de calma são repetidos.
"Os quenianos esperam que a votação deste ano seja diferente", afirma um editorial do jornal Daily Nation.
No domingo, a embaixadora dos Estados Unidos no Quênia, Meg Whitman, afirmou que as eleições representam uma "oportunidade para mostrar ao mundo a força da democracia queniana".
Centenas de observadores internacionais e da sociedade civil serão mobilizados na terça-feira.
A Comissão Eleitoral (IEBC), no centro de disputas eleitorais passadas, desta vez treinou centenas de conselheiros e aperfeiçoou o sistema de identificação e transmissão eletrônica. E afirma que está preparada para assumir o desafio de uma votação impecável.
* AFP