As forças policiais do Sri Lanka recuperaram o último prédio público ocupado por manifestantes antigoverno em Colombo nesta sexta-feira (22), em uma operação violenta que despertou preocupação na comunidade internacional.
Centenas de policiais e soldados do Sri Lanka destruíram o principal acampamento de protesto na capital, expulsando ativistas várias horas depois que o novo presidente, Ranil Wickremesinghe, 73, foi empossado.
Equipados com material antidistúrbios, a polícia e os militares removeram as barricadas que bloqueavam a entrada principal do palácio presidencial, parcialmente invadido por manifestantes no início de julho.
Ativistas da campanha contra o ex-presidente Gotabaya Rajapaksa ocupam esta área desde 9 de julho, quando invadiram o palácio presidencial e o forçaram a fugir do país e renunciar.
"Nove pessoas foram presas", das quais "duas ficaram feridas" durante a operação de despejo, informou a polícia em comunicado.
Segundo testemunhas, os militares detiveram várias pessoas e destruíram as barracas montadas ao longo da avenida que conduz ao palácio, enquanto a polícia bloqueava as ruas adjacentes para impedir a chegada de novos manifestantes.
Soldados também foram vistos atacando civis, incluindo jornalistas, com cassetetes enquanto avançavam em direção a grupos de manifestantes reunidos no local.
A embaixadora dos Estados Unidos em Colombo, Julie Chung, expressou sua "profunda preocupação" com esta operação militar. "Pedimos às autoridades que tenham moderação e forneçam atendimento médico imediato aos feridos", tuitou.
O representante diplomático canadense, David McKinnon, disse que "é crucial que as autoridades exerçam moderação e evitem a violência".
A Anistia Internacional exortou as autoridades do Sri Lanka a respeitar a dissidência e condenou o uso da força contra jornalistas, incluindo um fotógrafo da BBC, que cobriam a operação militar.
Pouco depois, Wickremesinghe reuniu-se com vários diplomatas estrangeiros em Colombo.
Após a reunião, Chung mostrou no Twitter sua grande "preocupação com a escalada inútil e perturbadora da violência contra os manifestantes". "Não é hora de punir os cidadãos", acrescentou.
- "Não ataquem, nos escutem" -
O novo presidente havia alertado os manifestantes que a ocupação de prédios estatais era ilegal e que eles seriam despejados. Wickremesinghe declarou estado de emergência, dando às forças armadas e à polícia amplos poderes para deter suspeitos por longos períodos sem a necessidade de acusá-los.
O líder da influente Ordem dos Advogados do Sri Lanka, Saliya Peiris, condenou a ação militar e alertou que prejudicaria a imagem internacional do novo governo.
"O uso desnecessário de força bruta não ajudará este país e sua imagem internacional", alertou Peiris em comunicado. Ele indicou que várias pessoas, incluindo um advogado, foram detidas pela polícia.
Na manhã de sexta-feira, centenas de manifestantes em um local perto do complexo presidencial exigiam a renúncia de Wickremesinghe, a dissolução do parlamento e a convocação de eleições.
"Não ataquem manifestantes pacíficos, nos escutem", exclamou Dimmithu, um estudante de 26 anos.
Os manifestantes disseram que continuariam o protesto, após quatro meses de manifestações contra o poder do clã Rajapaksa, que esta semana apoiou a eleição de Wickremesinghe.
Falido, o Sri Lanka negocia um plano de resgate com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em meio à grave escassez de alimentos, combustível e remédios para seus 22 milhões de habitantes.
A grave crise provocou manifestações contra Rajapaksa, cuja família comandou a vida política do Sri Lanka nas últimas décadas.
No dia em que Rajapaksa foi forçado a fugir, os manifestantes incendiaram a residência privada de Wickremesinghe na capital.
- Governo de unidade -
O novo presidente, que foi seis vezes primeiro-ministro, tomou posse na quinta-feira com o objetivo de formar um governo de unidade para tirar o país da histórica crise econômica na qual está submerso há meses.
O chefe de Estado, eleito pelo Parlamento para completar o mandato de Rajapaksa, que termina em novembro de 2024, nomeou seu amigo de infância Dinesh Gunawardena como primeiro-ministro.
Uma crise cambial desencadeada pela pandemia de coronavírus e exacerbada pela má gestão do governo deixou o Sri Lanka propenso a quedas prolongadas de energia e taxas históricas de inflação.
Mas os manifestantes acusam Wickremesinghe de ser um representante da poderosa família do agora ex-presidente, algo que ele negou.
"Não sou amigo dos Rajapaksa", defendeu-se Wickremesinghe a repórteres no templo Gangaramaya. "Sou amigo do povo."
* AFP