Uma das filas mais longas em Colombo, capital do Sri Lanka, é a de saída do país. Milhares de pessoas chegam ao escritório de migração em busca de um passaporte para fugir da crise econômica.
Todos os dias, cerca de 3.000 pessoas enviam seus documentos e 15.000 rúpias (42 dólares) para obter um passaporte.
O escritório funciona 24 horas por dia, seis dias por semana, para atender a demanda. Muitos têm que esperar a noite toda, como Madushini, de 35 anos, cujo hotel na província ocidental de Udawalawa sucumbiu primeiro ao coronavírus e depois à turbulência financeira.
Agora ela quer encontrar um emprego nos Estados Unidos, onde tem um primo.
"Acabou a chegada de turistas estrangeiros, preciso encontrar uma maneira de ganhar dinheiro e garantir a vida do meu filho", disse à AFP. "Todo o país está fechado e não temos dinheiro", acrescentou a mulher.
- Mais partidas -
Alguns deles aguardam na fila sem água e comida por medo de perder o lugar, suportando o calor tropical úmido.
A pandemia desencadeou uma crise cambial que alguns críticos dizem ter sido acentuada pela má gestão do governo. A situação deixou o Sri Lanka, um país dependente do turismo, incapaz de importar combustível, remédios e outros bens essenciais.
A inflação atingiu 54,6% em junho e o país insular deixou de pagar sua dívida de 51 bilhões de dólares.
As remessas do exterior, também afetadas pelo coronavírus, têm sido uma fonte de renda para o país, com mais de 10% dos 22 milhões de habitantes trabalhando no exterior, número que não para de crescer.
O departamento de migração já emitiu mais passaportes este ano do que em 2021, de acordo com seus dados. Normalmente emite cerca de 50.000 por mês, mas só em junho passado emitiu 122.000.
- Situação econômica difícil -
Muitos solicitantes de passaporte viajam longas distâncias das áreas rurais em ônibus lotados.
"Conheço pessoas na Arábia Saudita que prometeram me ajudar a conseguir um emprego como empregada doméstica", disse Shantakala, de 46 anos. "Meu marido vai cuidar da nossa terra, que não produz o suficiente para nós dois, então vou embora", acrescentou.
Há também alunos que abandonam os estudos. "Precisamos sair daqui, encontrar empregos e sustentar nossa família nesta difícil situação econômica", disse Imesh Tarusha, 18, de uma família de seis membros.
Ranil Wickremesinghe foi eleito o novo presidente do Sri Lanka na quarta-feira, substituindo Gotabaya Rajapaksa, que fugiu do país e renunciou depois que manifestantes invadiram seu palácio.
O Sri Lanka está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um plano de resgate, mas os migrantes têm poucas esperanças de que a situação melhore.
* AFP