A Justiça francesa condenou à prisão perpétua nesta quarta-feira (29) Salah Abdeslam, único integrante vivo dos comandos jihadistas que mataram, em 13 de novembro de 2015, 130 pessoas em Paris e na vizinha Saint-Denis.
Seis anos depois do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial e após 10 meses de processo, os 20 acusados receberam suas penas, que variam de dois anos de prisão à prisão perpétua sem liberdade condicional.
— As penas são bastante duras. Não sairão da prisão imediatamente. Vamos comemorar. Sinto um grande alívio — comentou Sophie, uma sobrevivente da casa de shows Bataclan, ao sair da sala com lágrimas nos olhos.
O principal acusado ouviu impassível e de braços cruzados o veredicto, que o presidente do tribunal, Jean-Louis Périès, leu em menos de uma hora no Palácio da Justiça, em Paris..
Abdeslam recebeu a maior pena, aplicada apenas quatro vezes na França, apesar dos esforços de sua defesa em apresentá-la como uma "pena de morte social" e garantir que ele desistiu de detonar os explosivos que carregava junto a seu corpo na noite do ataque.
— Não sou um assassino, e, se for condenado por assassinatos, vocês cometeriam uma injustiça — declarou na última segunda-feira (27) o francês de 32 anos, que reiterou suas desculpas aos sobreviventes e parentes das vítimas. — A opinião pública pensa que eu estava nos bares, atirando contra as pessoas, que estava no Bataclan. Vocês sabem que a verdade está no sentido contrário — afirmou Absdelam ao tribunal, antes do início das deliberações.
Para a Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT), o principal réu, preso na Bélgica em 18 de março de 2016, quatro dias antes dos atentados contra o metrô e o aeroporto de Bruxelas (32 mortos), tentou ativar seu cinturão de explosivos.
E os cinco magistrados do tribunal parisiense que o julgaram consideraram que o cinturão de explosivos estava "defeituoso", questionando "seriamente" suas declarações sobre uma eventual "desistência".
"Medo do vazio"
Dos 20 acusados, apenas 14 estiveram presentes. Seis foram julgados à revelia, entre eles cinco dirigentes do grupo Estado Islâmico (EI), dados como mortos, como o belga Oussama Atar, a quem se atribui a ordem de cometer o atentado.
Os sobreviventes e parentes das vítimas, que lotaram a sala, juntamente com jornalistas, durante a leitura do veredicto, receberam o resultado com um misto de satisfação, alívio e "medo do vazio".
— É um verdadeiro alívio que o processo tenha terminado. Há um medo do vazio hoje, mas é o momento de sair dele. Na próxima segunda-feira, retomo o trabalho — disse o sobrevivente Bruno Poncet.
Para o presidente da associação de vítimas Life for Paris, Arthur Dénouveaux, essas pessoas "precisavam estar juntas e ouvir o que a Justiça tinha para lhes dizer depois de seis anos e meio".
— Temos a sensação de que viramos uma página — disse Gérard Chemla, advogado das partes civis, para quem "as penas pronunciadas não são excessivas".
A defesa havia alertado para uma "justiça de exceção" nesses atentados, que deixaram um rastro de sangue no Stade de France, em Saint-Denis, em terraços de bares da capital e na casa de shows Bataclan, também em Paris.
O socialista François Hollande, presidente francês na época dos fatos, comemorou o fim de "um processo excepcional e exemplar" e considerou que os acusados foram "julgados conforme a lei".
Prisão perpétua "real"
Os atentados aconteceram em um contexto de ataques na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o EI na Síria e no Iraque. Milhares de sírios chegavam, por sua vez, ao continente europeu para fugir da guerra em seu país.
A prisão perpétua "real" é aplicada em pouquíssimos casos na França. Só foi decretada em quatro ocasiões desde que foi instaurada, em 1994, para condenados por matar crianças, após estuprá-las e torturá-las.