O Cazaquistão vota neste domingo (5) em um referendo que busca encerrar a era do líder Nursultan Nazarbayev e seu clã, que governam o país há 30 anos, mas cujo poder foi abalado por recentes distúrbios.
Esta ex-república soviética na Ásia Central, rica em minerais e hidrocarbonetos, sofreu violentos distúrbios em janeiro que deixaram mais de 230 mortos.
Os incidentes, os piores desde a independência do país em 1991, ocorreram após protestos pacíficos contra o aumento dos preços dos combustíveis e levaram a confrontos entre civis e policiais.
Antes disso, o atual presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, de 69 anos, era amplamente visto como um seguidor de Nazarbayev, de 81 anos, que renunciou em 2019, mas manteve sua influência política nos bastidores.
Os distúrbios de janeiro marcaram um ponto de virada, já que o presidente Tokayev pareceu aproveitar a crise para se livrar da influência de seu antecessor.
No mês passado, Tokayev pediu a organização de um referendo visando a reforma constitucional, em particular tirando de Nazarbayev o título de "Elbasy" - "Chefe da nação cazaque" - um status que lhe dá autoridade considerável.
Uma emenda estabelece que os parentes dos líderes não podem exercer funções governamentais importantes, uma medida obviamente destinada à família de Nazarbayev.
- "Todos iguais" -
Segundo Tokayev, o referendo deve eliminar a figura de "super-presidente", marcado há muito tempo pelo culto à personalidade de Nazarbayev.
É provável que ele vença, já que nenhuma campanha do 'não' ocorreu em um Estado autoritário conhecido por sufocar vozes críticas.
Em Almaty, Ayan, um estudante de 18 anos que votou pela primeira vez, disse estar feliz com a remoção do status privilegiado de Nazarbayev.
O ex-presidente "tem um lugar em nossos livros de história, mas todos os cidadãos devem ser iguais perante a Constituição", declarou.
Em Nur-Sultan, Bolat, empresário de 45 anos, explicou que não ia votar porque, na sua opinião, o referendo é "uma formalidade destinada a consolidar a posição do atual poder".
As causas dos distúrbios de janeiro não são claras. A violência devastou o centro de Almaty, mas poupou Nur-Sultan, ex-Astana renomeada em 2018 em homenagem a Nazarbayev.
Tokayev acusou "terroristas" de quererem tomar o poder.
No entanto, a prisão em 8 de janeiro de um amigo próximo de Nazarbayev, Karim Massimov, então chefe do Conselho de Segurança Nacional, alimentou a especulação de uma luta pelo poder.
Após a crise, Tokayev acusou publicamente Nazarbayev de ter protegido os "ricos".
Um sobrinho do ex-presidente, Kairat Satybaldy, foi preso em março e acusado de peculato.
Mas Tokayev também elogiou as conquistas de Nazarbayev, um ex-funcionário do Partido Comunista que desenvolveu o vasto país coberto de estepes com base na produção de hidrocarbonetos.
Ambos defendem laços estreitos com a vizinha Rússia, mantendo parcerias com o Ocidente e a China.
Durante os tumultos, Tokayev pediu ajuda a Moscou, que enviou tropas como parte de uma aliança militar.
O Kremlin assegura que esta intervenção não teve contrapartida política.
Desde janeiro, Nazarbayev quase não apareceu em público.
Mas na última segunda-feira ele deu uma entrevista em que defendeu a reforma.
* AFP