País que sofre frequentes cortes de eletricidade e o bloqueio de plataformas como Twitter e TikTok, o Uzbequistão não parece o melhor candidato para receber um boom do setor tecnológico, mas a chegada de cientistas da computação russos que fogem do país pode mudar as coisas.
Os especialistas russos partem em direção a vários países da antiga órbita soviética desde o começo da ofensiva russa na Ucrânia, para se protegerem da repressão e da crise econômica que se avizinha.
No Uzbequistão, as autoridades esperam aproveitar a chegada dos profissionais para acelerar a modernização de uma economia orientada à produção de matérias-primas, como o algodão e o gás.
Um dia depois da entrada das tropas russas na Ucrânia, em 24 de fevereiro, o governo uzbeque iniciou um procedimento simplificado para receber os cientistas da computação e empresas tecnológicas russas.
Este programa oferece vistos, alojamento e ajuda para o cuidado das crianças, assim como isenções fiscais às empresas.
O governo afirma que já atraiu 2.000 profissionais estrangeiros ligados ao setor da informática.
"O país nos acolheu como se fôssemos um deles", afirma Anastasia Markova, uma russa de 22 anos, que recentemente se tornou encarregada de relações públicas do parque informático do país, gerido pelas autoridades na capital.
Em abril, ela deveria se casar na Rússia, mas fugiu de Moscou para Toshkent com seu noivo, agora empregado de uma empresa instalada no mesmo local.
A mulher busca um visto de residência permanente. Disse se sentir segura na capital uzbeque, onde o russo segue sendo amplamente falado 30 anos depois da independência do país após o colapso da URSS.
- Menos popular que Geórgia, Turquia ou Armênia -
Porém, a lei do silêncio em torno da invasão da Ucrânia imposta na Rússia vai bem além das suas fronteiras.
Anastasia se limita a dizer que sua saída "prematura, como para muitos" se deve a "um conjunto de fatores políticos e econômicos".
Outros cidadãos russos contatados pela AFP depois de instalados no Uzbequistão se negaram a falar, alegando medo de serem identificados como críticos do regime.
Em Toshkent, o parque tecnológico acolhe mais de 500 empresas que devem concretizar a ambição das autoridades de alcançar os bilhões de dólares de exportações desse setor até 2028, ou seja, uma multiplicação por 25 em relação a 2021.
Desde o começo da guerra na Ucrânia, entre 50.000 e 70.000 profissionais do setor saíram da Rússia, calculou em 22 de março um grupo de lobistas russo, a associação de comunicação eletrônica.
No momento, o Uzbequistão é menos popular que a Geórgia, a Turquia ou a Armênia. Esse é o reflexo do atraso do país no setor da tecnologia, já que os cortes de energia são frequentes, inclusive na capital.
No entanto, a velocidade da internet uzbeque "aumentou consideravelmente", segundo Bajodir Ayupov, vice-diretor do parque tecnológico de Toshkent.
A ferramenta de telecomunicação Skype, durante muito tempo inacessível, foi desbloqueada recentemente, mas as redes sociais Twitter e TikTok, assim como o "Facebook russo" VKontakte seguem bloqueados nesta autoritária República de 35 milhões de habitantes.
Apesar dessas dificuldades, alguns dos russos que chegaram ao país preferem ficar ao invés de voltar para a Rússia.
"A princípio, pensamos em ficar somente uns dias, mas decidimos ficar mais, já que pessoas completamente desconhecidas foram muito boas conosco", explica Olga, de 42 anos, que pediu para que seu sobrenome permanecesse em anonimato por medo de sofrer represálias.
* AFP