O Sri Lanka pediu, nesta quarta-feira (13), para seus residentes no exterior darem dinheiro ao país, que suspendeu os pagamentos da dívida e está carente de divisas para importar alimentos, medicamentos e combustível.
Esse país insular da Ásia de 22 milhões de habitantes vive a pior recessão desde sua independência em 1948. O país declarou, na terça-feira (12), a suspensão do pagamento de sua dívida externa de 51 bilhões de dólares a fim de liberar recursos para comprar combustível, medicamentos e bens de primeira necessidade.
O governador do Banco Central, Nandalal Weerasinghe, pediu, em um comunicado, para os singaleses do exterior "apoiarem o país neste momento crítico e dar as divisas que tanto necessitamos".
Foram abertas contas bancárias nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha para receber as doações dos expatriados. Weerasinghe prometeu gastar esse dinheiro de forma adequada.
O Banco Central "garante que estas somas em divisas serão utilizadas unicamente para a importação de bens essenciais, incluindo alimentação, combustíveis e medicamentos", assegurou.
O Sri Lanka vai utilizar os 200 milhões de dólares que seriam usados de início para pagar seus credores a título de juros na segunda-feira, para importar bens essenciais, disse o governador.
- Ceticismo -
Contatados pela AFP, vários singaleses residentes no exterior receberam com ceticismo os pedidos de doações do banco central.
"Não nos importa ajudar, mas não confiamos no que o governo vai fazer com nosso dinheiro", declarou à AFP um médico singalês residente na Austrália.
Um compatriota que trabalha no setor da informática e que vive no Canadá disse que não acredita que o dinheiro vai ser corretamente gasto.
"Poderia ocorrer o mesmo que aconteceu com os fundos do tsunami", afirmou, aludindo aos milhões de dólares de doações que a ilha recebeu após a catástrofe de dezembro de 2004 e que deixou, ao menos, 31.000 mortos no país.
Muitos singaleses suspeitam que seus dirigentes ficaram com parte dessas quantias. De fato, o atual primeiro-ministro, Mahinda Rajapaksa, foi obrigado a restituir fundos de ajuda pelo tsunami que haviam sido depositados em sua conta bancária pessoal.
Há semanas, os singaleses sofrem cortes de eletricidade e grave carestia de alimentos, combustíveis e produtos farmacêuticos. Grande parte dos 22 milhões de habitantes do país estão imersos na miséria.
A crise, devido à pandemia do covid-19, que privou o país de seus lucros turísticos, foi agravada por uma série de más decisões políticas, segundo os economistas.
O governo impôs uma ampla proibição de importações para preservar suas reservas de moedas estrangeiras.
Essa crise gerou um grande movimento de protestos populares contra o presidente, Gotabaya Rajpaksaly, e seu clã familiar.
Nas últimas semanas, a população foi às ruas indignada e tentou invadir as casas dos governantes, enquanto as forças de segurança dispersavam os manifestantes com gas lacrimogêneo e balas de borracha.
Nesta quarta (13), e pelo dia quinto dia consecutivo, milhares de pessoas seguiam acampadas em frente à sede do gabinete do presidente Gotabaya Rajapksa, em Colombo, diante da orla marítima da capital, para pedir sua renúncia.
* AFP