O presidente centrista Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen reservaram esta terça-feira (19) para a preparação do crucial debate televisivo desta quarta-feira (20), com a esperança de fazer pender a balança presidencial a seu favor, restando cinco dias para o segundo turno na França.
De acordo com as pesquisas mais recentes, Macron, que tem entre 55% e 56,5% das intenções de voto, venceria mais uma vez Le Pen na votação do próximo domingo (24), mas a candidata do partido Reagrupamento Nacional (RN) reduziu consideravelmente a distância na comparação com o duelo de 2017 quando perdeu com 33,9% dos votos.
— Vou me preparar para o debate em minha casa, como faço para todos os debates — disse Marine Le Pen, que na segunda-feira se encontrou com eleitores na Normandia, no noroeste da França, antes de encarar a reta final de sua terceira campanha presidencial.
O debate de 2017 não foi favorável para a candidata de extrema-direita, criticada por sua "agressividade" e "falta de preparo". Poucos dias depois, ela admitiu um "erro estratégico", um mea-culpa que reiterou na atual campanha.
Macron aproveitou a segunda-feira de Páscoa, feriado na França, para conceder três entrevistas a emissoras de rádio e televisão, nas quais chamou a atenção para a abstenção e voltou a falar sobre as consequências da chegada da extrema-direita ao poder.
— Pensem no que falavam os cidadãos britânicos algumas horas antes do Brexit ou nos Estados Unidos antes da votação em (Donald) Trump: 'Não vou comparecer, qual o sentido?' Posso dizer que no dia seguinte se arrependeram — afirmou o centrista ao canal France 5.
O candidato do partido A República Em Marcha (LREM), 44 anos, se esforça para ressuscitar a imagem de radical da herdeira da Frente Nacional, que Marine Le Pen conseguiu apagar no primeiro turno ao evitar temas como a migração ou a segurança.
O porta-voz do governo, Gabriel Attal, disse à rede CNews que Macron se prepara para "este debate importante" no qual deverá "detalhar as proposições". Ao contrário de 2017, deverá defender também sua gestão que, para Le Pen, está marcada pelo "desprezo aos franceses".
Após um primeiro turno discreto e no qual se apresentou como defensora do poder aquisitivo, Le Pen, 53 anos, busca agora tranquilizar os franceses sobre seu eventual governo, ao afirmar que comandará a França como uma "mãe de família".
— O medo é de fato o único argumento que resta ao atual presidente para tentar se manter a qualquer custo — disse nesta terça-feira em um vídeo publicado nas redes sociais.
Novo impulso
O debate programado para a noite de quarta-feira (20), que também será transmitido pela plataforma Twitch, será o primeiro de Macron nesta campanha, que se recusou a encontrar os rivais no primeiro turno.
Macron obteve então 27,85% dos votos e Le Pen 23,15%. Ambos desejam agora atrair os adeptos do esquerdista Jean-Luc Mélenchon (21,95%) e que pediu a seus eleitores que não concedam nenhum voto a Le Pen, mas sem pedir voto diretamente para Macron.
Com base neste apelo, uma pesquisa entre mais de 200 mil pessoas que apoiaram a candidatura de Mélenchon mostrou dois terços a favor do voto nulo, em branco ou da abstenção no segundo turno. O terço restante defendeu o voto no atual presidente.
Para tentar convencê-los, Macron deu um passo atrás em sua principal proposta - aumentar a idade mínima da aposentadoria de 62 a 65 anos. Um dia após o primeiro turno, ele se declarou aberto a aumentar para 64 anos.
A maioria dos candidatos derrotados no primeiro turno pediu voto para Macron ou contra Le Pen. Esta última recebeu o apoio de seu rival de extrema direita Éric Zemmour (7,07% dos votos).
A cinco dias do segundo turno, o presidente recebeu o apoio de seu pai, Jean-Michel Macron, que em uma entrevista ao jornal L'Est républicain disse que tem "muita admiração" por seu filho e que os franceses são "muito ingratos" a respeito de seu primeiro mandato.
Se Macron for reeleito, o primeiro-ministro, Jean Castex, anunciou que apresentaria a demissão do governo alguns dias depois, sem esperar as eleições legislativas de meados de junho, porque na sua opinião é necessário um "novo impulso".