A Europa registrou o maior aumento mundial na importação de armas nos últimos cinco anos e a tendência aponta uma aceleração após os anúncios recentes de mais armas diante da ameaça russa, segundo um relatório divulgado nesta segunda-feira (14). Ao contrário das exportações de armas que caíram 4,6% em todo mundo no período de 2017-21 comparado com o quinquênio anterior, a Europa apresentou um aumento de 19%, segundo o informe anual do Instituto Internacional para a Paz de Estocolmo (Sipri)
— A Europa é a nova área de tensão — disse à AFP Siemon Wezeman, coautor do informe anual do Sipri.
— Vamos aumentar os nossos gastos militares por muito tempo. Necessitamos de novas armas e muito disso virá de importações — afirmou o especialista, ao destacar que a maior parte chegará dos outros países europeus e dos Estados Unidos.
A Alemanha já anunciou planos para aumentar o seu investimento bélico, assim como a Dinamarca e a Suécia. Os países europeus, alarmados com a invasão russa à Ucrânia, devem fortalecer seus aparatos militares com caças, mísseis, artilharia e outros equipamentos pesados.
— Muitas dessas coisas levam tempo. É necessário um processo, deve-se tomar a decisão, fazer o pedido, tem que fabricar. Isso costumar levar alguns anos ao menos — segundo Wezeman.
Indicou que a tendência ascendente começou após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e os efeitos são visíveis agora. A cota europeia do comércio mundial de armas subiu de 10% para 13% nos últimos cinco anos e esta porcentagem crescerá "substancialmente", segundo Wezeman.
De acordo com o Sipri, Ásia e Oceania são a principal região importadora dos últimos cinco anos, com 43% das transferências bélicas e seis dos maiores importadores mundiais: Índia, Austrália, China, Coreia do Sul, Paquistão e Japão.
Ainda que as importações de armas da região mais habitada do mundo tenham caído cerca de 5% nos últimos cinco anos, Ásia Oriental e Oceania, em particular, tiveram forte crescimento com 20% e 59%, respectivamente.
— As tensões entre China e muitos outros países da Ásia e Oceania são o principal motor da importação de armas na região — indicaram os autores do informe em um comunicado.
Isolamento russo
No Oriente Médio, segundo maior mercado com 32% das importações mundiais de armas, o aumento foi de 3%, principalmente pelos investimentos do Catar, envolvido em tensões com seus vizinhos do golfo.
— Com os preços atuais do petróleo, eles vão ter muitos lucros e isso só pode ser traduzido em grandes pedidos de armas — assinalou Wezeman.
Já nas Américas e África foram registradas fortes baixas em suas compras de armas, de 36% e 34% respectivamente, e cada um responde por cerca de 6% das importações de armas. Individualmente, Índia e Arábia Saudita compartilham a liderança como os maiores importadores, cada um com 11%, acima do Egito (5,7%), Austrália (5,4%) e China (4,8%). Quanto aos exportadores, os Estados Unidos lideram a lista com 39%.
A Rússia permanece em segundo lugar, ainda que sua participação tenha caído a 19% nos últimos cinco anos, em grande parte pela queda nas compras da China, que agora é quase completamente independente das importações russas. O isolamento russo e as sanções pela guerra na Ucrânia possivelmente afetarão o futuro de sua indústria bélica.
— Há uma ameaça do lado americano que diz "se você compra armas da Rússia, vamos te sancionar" — indicou Wezeman, citando as tensões surgidas logo depois que a Turquia comprou um sistema russo de defesa de antimísseis S-400.
— Acredito que a pressão será enorme sobre países como Argélia ou Egito, que são grandes importadores de armas russas — indicou.
A França é o terceiro maior exportador com 11%, enquanto China e Alemanha permaneceram em quarto e quinto lugar com 4,6% e 4,5%, respectivamente.