Os Estados Unidos aumentaram nesta sexta-feira (11) as sanções à Rússia pela invasão da Ucrânia, uma ofensiva que avança com suas tropas no oeste e centro e aperta o cerco à capital, Kiev.
Centenas de milhares de civis continuam presos sob bombardeios enquanto mais de 2,5 milhões fugiram do país, segundo estimativas da ONU.
A situação é particularmente grave na cidade portuária de Mariupol (sul), onde, segundo as autoridades locais, 1.500 pessoas morreram desde que a Rússia praticamente a isolou do mundo há doze dias.
O representante local do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Sasha Volkov, alertou que alguns moradores "começaram a brigar por comida" e que muitos ficaram sem água potável.
Países ocidentais impuseram pesadas sanções a Moscou e enviaram fundos e reforços militares para a Ucrânia, mas não conseguiram impedir o avanço da Rússia, que realizou vários bombardeios nas primeiras horas desta sexta-feira.
O presidente americano Joe Biden anunciou que os Estados Unidos, juntamente com seus aliados do G7 e a União Europeia (UE), decidiram excluir a Rússia do regime de reciprocidade no comércio mundial, o que abre caminho para a imposição de tarifas punitivas contra Moscou.
Os Estados Unidos e a UE proibiram a exportação de produtos de luxo para a Rússia.
"Putin deve pagar o preço, ele não pode iniciar uma guerra que ameace os fundamentos da paz e da estabilidade internacionais e depois pedir ajuda à comunidade internacional", disse Biden.
As primeiras negociações de alto nível entre os dois lados na quinta-feira não progrediram em direção a um cessar-fogo, mas o presidente russo Vladimir Putin reconheceu "passos positivos" nas negociações.
Esse comentário animou as bolsas dos Estados Unidos e da Europa.
- Bombardeios -
Este otimismo, no entanto, não foi percebido em campo.
Três mísseis atingiram edifícios civis na cidade de Dnipro, no centro da Ucrânia, nesta sexta-feira, destruindo uma fábrica de calçados e matando um segurança.
Até agora, a cidade havia sofrido poucos ataques, tornando-se um centro de coordenação de ajuda humanitária e recepção de pessoas deslocadas.
"Hoje deveríamos receber pessoas que precisam de muito apoio... agora não podemos ajudar ninguém", disse Svetlana Kalenecheko, que vive e trabalha em uma clínica danificada pelo ataque.
Os bombardeios noturnos também atingiram as cidades de Chernihiv (norte), Sumy (nordeste) e Kharkiv (leste), fortemente atingidas pela ofensiva russa. Os ataques causaram danos a edifícios residenciais e infraestruturas de abastecimento de água e eletricidade.
Perto de Oskil, na região de Kharkiv, uma instalação para pessoas com deficiência foi alvo de bombardeios russos, porém não há relatos de vítimas fatais.
A Rússia anunciou que os aeroportos militares de Lutsk e Ivano-Frankivsk, perto da fronteira com a Polônia, estavam "fora de operação". As autoridades locais afirmam que quatro soldados ucranianos foram mortos.
O governo russo prometeu abrir diariamente corredores humanitários para os ucranianos fugirem dos combates e chegarem à Rússia, mas a Ucrânia se recusa a evacuar seus cidadãos para o país agressor e reivindica corredores dentro de suas fronteiras.
- "Mercenários" sírios -
O exército ucraniano alertou em um relatório que "o inimigo está tentando eliminar as defesas das forças ucranianas" em vários locais a oeste e ao norte de Kiev com o objetivo de "bloquear a capital".
Esta fonte não excluiu "um movimento inimigo para o leste na direção de Brovary", nos portões de Kiev.
O prefeito da capital, o famoso ex-boxeador Vitali Klitchko, disse que metade da população foi embora e que a cidade, antes com quase 3 milhões de habitantes, "se transformou em uma fortaleza".
"Cada rua, cada prédio, cada posto de controle foi fortificado", disse ele.
Desde o início da ofensiva, em 24 de fevereiro, as forças invasoras cercaram pelo menos quatro grandes cidades ucranianas e enviaram veículos armados para o flanco nordeste de Kiev, onde subúrbios como Irpin ou Busha foram bombardeados por dias.
Soldados ucranianos descreveram intensos combates para controlar a principal rodovia que leva à capital.
O Ministério da Defesa britânico indicou que esta estratégia de cidades vizinhas "reduzirá o número de forças disponíveis para avançar e retardar o progresso russo".
Nesta sexta-feira, o Kremlin apontou que cidadãos da Síria e de outras partes do Oriente Médio podem ser autorizados a lutar ao lado das forças russas na Ucrânia.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky acusou a Rússia de contratar "assassinos da Síria, um país onde tudo foi destruído pelos ocupantes, algo que eles estão nos fazendo passar".
- "Evitar uma guerra aberta" -
Em uma mensagem gravada do lado de fora do escritório presidencial em Kiev, Zelensky também pediu à União Europeia (UE) que "faça mais" para ajudar a Ucrânia.
Os países ocidentais até agora ofereceram apoio militar e humanitário à Ucrânia e estão considerando aumentar as sanções contra Moscou.
Em entrevista à AFP, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, enfatizou nesta sexta-feira que a Aliança tem "a responsabilidade de impedir que esse conflito se intensifique além das fronteiras da Ucrânia e se transforme em uma guerra aberta entre a Rússia e a Otan".
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse nesta sexta-feira que propôs aos líderes do bloco, reunidos em uma cúpula na França, uma contribuição adicional de 500 milhões de euros (548 milhões de dólares) em ajuda militar para a Ucrânia.
- Rússia vs Facebook -
A Meta, controladora do Facebook e do Instagram, anunciou na quinta-feira que abriria exceções às suas regras em relação a postagens hostis aos militares e ao governo russo.
A Rússia anunciou uma ação legal contra a empresa, pelo que considerou uma "chamada ao assassinato de russos".
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos expressou nesta sexta-feira sua preocupação com a flexibilização das regras anunciada pela Meta.
* AFP