O presidente Joe Biden anunciou, nesta sexta-feira (11), que os Estados Unidos e seus aliados decidiram excluir a Rússia do regime normal de reciprocidade que rege o comércio mundial, o que abre as portas para a imposição de tarifas alfandegárias punitivas contra Moscou.
A proibição privaria a Rússia de mais de US$ 1 bilhão em receita, de acordo com um comunicado de imprensa no site da Casa Branca. Ao mesmo tempo, Washington não exclui a introdução de outras restrições aos suprimentos russos.
— Tomamos medidas adicionais para proibir o comércio com setores emblemáticos da economia russa, em particular, frutos do mar, vodca e diamantes (não industriais) — declarou Biden.
Até então, Moscou se beneficiava de um "status" comercial de "nação mais favorecida", que lhe permite o livre-comércio de alguns bens e serviços.
Desta forma, a Rússia se juntará a Cuba e Coreia do Norte, os únicos países excluídos pela maior potência mundial do princípio da reciprocidade, base da maioria das relações comerciais internacionais. A decisão final sobre essa nova sanção, tomada em coordenação com o G7 e a União Europeia, é de responsabilidade do Congresso dos Estados Unidos.
Membros democratas e republicanos do Congresso, mostrando um raro impulso bipartidário quando se trata de sanções contra Moscou, já sinalizaram apoio ao fim das relações comerciais normais com a Rússia.
A ação faz parte das novas medidas em resposta à "guerra não provocada e injustificada" da Rússia contra a Ucrânia. A cláusula da nação mais favorecida — conhecida nos Estados Unidos como "relação comercial permanente normal" — é um pilar do livre comércio.
Este princípio de reciprocidade e não discriminação rege atualmente a maioria das relações comerciais entre os Estados. A Organização Mundial do Comércio (OMC) exige que qualquer vantagem comercial, como redução de tarifas, concedida por um membro seja automaticamente aplicada a todos os outros. Moscou, que aderiu à OMC em 2012, tem se beneficiado desse regime desde então.
Em tempo, privar a Rússia desse status permitiria que seus parceiros comerciais impusessem taxas alfandegárias maiores, penalizando suas exportações.
Reflexos das sanções anteriores
Em 2021, os Estados Unidos importaram cerca de US$ 30 bilhões em produtos russos, incluindo US$ 17,5 bilhões em petróleo bruto, uma commoditie à qual Washington acabou de impor um embargo total.
Essa nova sanção se somará a muitas outras aplicadas pelo Ocidente para cortar gradualmente os laços econômicos e financeiros do país liderado por Vladimir Putin com o resto do mundo. Essas sanções já tiveram um impacto devastador na economia russa, a ponto de o país estar agora, segundo a agência Fitch, à beira do colapso.
O rublo bate recordes negativos, já que muitas empresas ocidentais suspenderam suas atividades na Rússia.
A guerra na Ucrânia também tem consequências para toda a economia mundial, que mal se recupera da pandemia de covid-19, e agora encara uma explosão no preço das matérias-primas. Ainda assim, Biden está sob intensa pressão política interna para anunciar mais sanções contra a Rússia.
Nesse contexto, decidiu proibir a importação de petróleo russo para os Estados Unidos, medida que o Congresso exigia e que, pela primeira vez, foi tomada sem coordenação com os europeus. A pressão também está vindo da Ucrânia, que insiste para que Washington atinja os bolsos da Rússia com mais força, já que Biden descartou categoricamente a intervenção militar.
"Sei que os Estados Unidos estão fazendo tudo o que podem no momento, mas... realmente queremos que muito mais medidas sejam tomadas", disse Oleg Ustenko, consultor econômico do presidente ucraniano, à CNN na sexta-feira (11).