Brasileiros e estrangeiros que conseguiram fugir da Ucrânia em razão da guerra chegaram ao Brasil nesta quinta-feira (10) após uma operação de repatriação do governo federal. As 68 pessoas — 43 brasileiros, sendo 12 menores; 19 ucranianos com familiares brasileiros, três menores; cinco argentinos, um menor; e um colombiano —, além de oito cachorros e dois gatos, chegaram em duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB).
O grupo embarcou no robusto KC-390 Millennium, um dos maiores jatos militares do país, em Varsóvia, capital da Polônia, na quarta-feira (9). O avião saiu do Brasil na última segunda-feira (7) com destino ao Leste Europeu.
Um jato VC-99B Legacy do governo também foi utilizado para transportar crianças e uma gestante — o avião estava com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que fez uma viagem para Portugal e, após, para a Polônia, e decidiu retornar ao Brasil no outro jato da FAB para dar lugar ao grupo.
As aeronaves fizeram uma primeira parada em Recife, às 7h, e, após, pousaram na base aérea de Brasília por volta das 12h15min. No local, foram recepcionados pelo presidente Jair Bolsonaro, primeira-dama Michelle Bolsonaro, ministros e demais autoridades do governo.
O estudante de medicina Roni de Moura dos Reis, de Niquelândia (GO), morava há três anos em Kiev e conta que a saída da Ucrânia foi "cinematográfica".
— Chegar aqui no Brasil é uma satisfação enorme — resume.
Reis relata que, ao cruzar a fronteira com a Polônia, viu o drama das mulheres e crianças que aguardavam em filas gigantescas para poderem deixar o país. Após atravessar, relatou tranquilidade, mas também preocupação com os ucranianos que conhece.
— O dono da ex-casa que eu vivia de aluguel não entra na internet há 10 dias mais ou menos, e eu não sei onde é que eles estão. São pessoas que eu realmente conheço, que mantive um convívio. Estou tranquilo, estou aliviado, mas preocupado com as pessoas que conhecia lá — afirma.
O brasileiro ressalta que teve um choque de realidade quando entrou em um supermercado e não havia mais água para comprar, e as pessoas já estavam desesperadas.
— O máximo que eu escutei foram duas bombas que caíram próximo da minha casa — acrescenta, sobre as cenas de guerra.
— Quero o meu diploma e poder seguir uma vida normal e tranquila, sem nenhum tipo de atrito — conclui.
Em uma sala reservada da base aérea, os repatriados serão testados para covid-19 e, em caso positivo, ficarão em isolamento em hotéis. Doses da vacina contra o coronavírus também estarão disponíveis ao grupo, caso alguém ainda não tenha sido imunizado.
O governo federal fez um acordo com companhias aéreas para que as empresas levem os brasileiros e estrangeiros até as suas cidades de destino.
Essa é a primeira operação de repatriação de brasileiros e parentes por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, organizada pelo governo federal 12 dias após o início da guerra no Leste Europeu.