O governo ucraniano anuncia que mais de 20 mil estrangeiros se ofereceram para lutar ao lado dele, contra os russos. Pode não ser tudo isso, pode ser propaganda. Mas o fato é que muita gente está disposta a custear a própria viagem até a Ucrânia para participar da guerra. Movidos por idealismo ou espírito aventureiro. Ou ambos os sentimentos.
Só do Brasil, mais de 500 voluntários se apresentaram em diversos grupos. Eles contatam a Ucrânia via indireta, por sites de recrutamento que se conectam com a chamada Legião Internacional Ucraniana. A exigência é ter treinamento militar. Falamos com alguns desses interessados.
Um deles é o fotógrafo mineiro Fábio Junior de Oliveira, 42 anos, sargento da reserva do Exército brasileiro. Ele inclusive serviu no Rio Grande do Sul, em Uruguaiana, no 22 Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsada. Fala com nostalgia desse tempo. De espírito inquieto, sem filhos, depois de ser militar, trabalhou nos Estados Unidos e num navio de cruzeiro na Dinamarca.
— Vou para lutar. Movido pela indignação com o que ocorre na Ucrânia, com aquela agressão injustificada. Pedimos ajuda para uma passagem só de ida. Até milhagem de companhia aérea serve. Lá dentro a gente receberá recursos. Sei que podemos voltar sem uma perna, ser presos ou até nem voltar. Estou consciente — comenta.
O grupo onde está Fábio tem ex-militares e ex-policiais de Roraima, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio de Janeiro. Eles se conheceram virtualmente em grupos no aplicativo Telegram (o mais popular no Leste europeu), todos interessados em ajudar a Ucrânia.
Outro que o colunista contatou também se chama Fábio, um paulista que prefere não revelar nome completo. Ele é da área de segurança privada, com cursos reconhecidos pela Polícia Federal. Sabe manusear armas, mas não chegou a ser militar. Depois cursou licenciatura em História e Geografia. Daí o interesse por assuntos internacionais.
— Desde criança, meu desejo era ser do Exército, sonho interrompido por dispensa no alistamento. Indo para a Ucrânia teremos muito a fazer. A parte humanitária da causa, na fronteira com a Polônia, precisa de ajuda na organização. Pode ser descarregando carga, separando, entregando. Qualquer forma de ajudar os civis. E, se necessário, defender também — explica.
Localizamos até uma gaúcha de nascimento, engajada em conseguir voluntários para a causa ucraniana. A corretora de imóveis Irina Normey Villagran, 30 anos, nasceu em Santana do Livramento, mas é uruguaia, filha de uruguaios e morava em Rivera (cidade fronteiriça) até poucos anos atrás, quando se mudou para São Paulo.
Irina não tem parentes ou amigos ucranianos. O interesse foi despertado por uma vizinha de condomínio, ucraniana de origem. As duas se mobilizaram assim que a guerra no Leste europeu estourou.
A uruguaia-gaúcha ajuda a organizar dois grupos, em que cadastrou até agora 169 pessoas interessadas em lutar na Ucrânia. O alistamento ocorre, por exemplo, via Instagram, na página voluntários_brazucrania. Os voluntários precisam ter ciclo vacinal contra a covid-19 completo.
— Creio que a metade da lista é de ex-militares ou ex-policiais. Eles vão receber um treinamento prévio e equipamentos. E estão dispostos a morrer pela Ucrânia. Fizemos vaquinha, mas os recursos custam a chegar — informa Irina.
Não há envolvimento oficial da embaixada ucraniana com esses voluntários.