Em um encontro tenso, mas sem confrontos, a polícia canadense prendeu mais de 100 manifestantes nesta sexta-feira (18) em Ottawa e rebocou veículos, em uma operação para dispersar protestos liderados por caminhoneiros há mais de três semanas contra medidas de combate à covid-19.
O comandante da polícia, Steve Bell, informou em entrevista coletiva que os manifestantes "foram acusados de múltiplos crimes, entre eles vandalismo." Bell acrescentou que a operação ocorria "como planejado", mas levaria "tempo". "Temos a situação em campo sob controle e continuamos avançando para desobstruir nossas ruas", acrescentou, confirmando que não houve feridos.
Centenas de policiais se mobilizaram diante dos manifestantes que se recusavam a liberar as ruas do centro de Ottawa, apesar das inúmeras advertências e da proclamação do estado de emergência contra um movimento que chegou a ser replicado em outros países.
Os policiais cercaram a área da manifestação e lentamente apertaram o cerco sobre os manifestantes, mas ainda não haviam chegado à avenida principal, ao redor do prédio do Parlamento.
Vários manifestantes foram detidos, a maioria sem resistência. As autoridades continuam a alertar os manifestantes de que devem sair das ruas se não quiserem ser presos. Em algumas avenidas da capital, cobertas de neve recém-caída, foram removidos os primeiros veículos.
A Polícia reiterou em sua conta do Twitter o apelo aos manifestantes: "Devem ir embora. Devem parar toda atividade ilegal e imediatamente devem retirar seus veículos e/ou propriedades de todos os lugares de protesto ilegal. Qualquer um que estiver no local de um protesto ilegal pode ser preso".
Um dos líderes do movimento, o militante de extrema-direita Pat King, foi preso no início da tarde de sexta-feira quando deixava a cidade. Sua prisão pôde ser vista ao vivo no Facebook Live.
Dois outros líderes foram presos na noite de quinta-feira e devem ser apresentados à justiça na sexta-feira.
Tamara Lich, que está por trás do "comboio da liberdade", é acusada de ter incitado "a cometer crimes".
Já Christopher Barber é acusado pelo mesmo crime, assim como de ter incitado a desobedecer uma ordem judicial e atrapalhar o trabalho da polícia.
Alguns manifestantes afirmaram antes da intervenção policial que aguentariam até o final.
Instalado desde o primeiro dia de protestos, Csaba Vizis afirmou estar pronto para "voltar para casa glorioso com o César ou em um saco de cadáver". "Não tenho nada a perder, ou ganho isso ou morro", disse o caminheiro de 50 anos.
Em sua conta no Twitter, o movimento ainda tentava convocar a mobilização: "Se você não concorda com os excessos ilegais e sem precedentes do governo, pare de fazer tudo o que está fazendo e faça sua voz ser ouvida. Canadenses, seu país precisa de vocês."
- 'Mantenham-se afastados' -
Inicialmente subestimado pelas autoridades, o movimento de protesto canadense começou no final de janeiro a partir de caminhoneiros que protestavam contra a obrigação de se vacinarem para cruzar a fronteira com os Estados Unidos.
As demandas, no entanto, se estenderam depois à rejeição de todas as medidas sanitárias e inclusive ao governo de Justin Trudeau. Este último disse na quinta-feira que o movimento deixou de ser "pacífico".
Pela primeira vez desde o início do protesto, que acontece em frente ao Parlamento federal, este último permaneceu fechado nesta sexta-feira.
"A sessão de hoje está cancelada" por razões de segurança, anunciou o presidente da Câmara dos Comuns, Anthony Rota.
"Se você não está (já) presente nas instalações da Câmara dos Comuns, mantenha-se afastado do centro da cidade até novo aviso. Se já está dentro do edifício, permaneça dentro e aguarde instruções", disse aos deputados.
Os legisladores deveriam debater a aprovação de uma lei de medidas de emergência das 07h00 locais (09h00 em Brasília) até meia-noite.
A câmara analisa desde quinta-feira a implementação da Lei de Medidas de Emergência invocada por Justin Trudeau na segunda-feira para acabar com os bloqueios "ilegais" que se desenvolvem no país.
A oposição conservadora questionou duramente a menção dessa lei pelo governo.
"Nossa economia e nossa democracia combatem uma grave ameaça financiada com fundos estrangeiros", acusou nesta sexta-feira a vice-primeira-ministra e Ministra da Fazenda, Chrystia Freeland. "Não se pode permitir que esses bloqueios e ocupações ilegais usurpem a autoridade dos governos eleitos democraticamente", completou.
Freeland explicou na quinta-feira que a ativação da lei já permitiu congelar as contas bancárias de pessoas físicas ou jurídicas vinculadas à manifestação.
Segundo o governo, os bloqueios fronteiriços organizados pelos manifestantes custaram "bilhões de dólares à economia canadense."
Esses bloqueios, em particular o da ponte Ambassador, que conecta Ontário à cidade americana de Detroit, levaram Washington a intervir contra o governo de Trudeau.
A cidade de Ottawa, a província de Ontário e todo o Canadá estão em estado de emergência devido a esse movimento de protesto sem precedentes.
* AFP