Os corpos de seis dos 11 dominicanos falecidos no acidente com um caminhão lotado de migrantes no México foram repatriados esta semana ao país para serem entregues aos familiares.
O corpo de Rafelín Martínez, de 30 anos, chegou na terça-feira e foi transladado nesta quarta (29) a Azua, 110 km a oeste de Santo Domingo para sere velado na humilde casa de sua família.
"Isso não se aguenta, não se suporta. Rafi, meu filho, levanta daí, fiho!", implorava sua mãe, Kenya Castillo, enquanto chorava, inconsolável, sobre o caixão coberto com um cartaz estampando o rosto do rapaz.
O acidente de 9 de dezembro deixou um total de 56 mortos, todos migrantes que viajavam no baú de um caminhão clandestino, que bateu em um muro de contenção e tombou em uma estrada no sul do México.
Onze das vítimas eram dominicanas. As outras eram de Guatemala, Honduras, Equador e México.
Os primeiros seis corpos chegaram esta semana. Os outros cinco devem chegar na próxima, informou o Ministério das Relações Exteriores.
Outros três dominicanos ficaram feridos no acidente e ainda se recuperam no hospital. Outros dois estão desaparecidos, segundo a chancelaria.
Martínez, que trabalhava como artesão em seu país, "decidiu fazer a viagem, como todo mundo que migra, para ter outro tipo de vida", explicou à AFP seu padrasto, Rómulo Terrero Matos, de 62 anos. "Vivemos em um país pobre e ele pensou em partir para os Estados Unidos do jeito que fosse".
Ele pagou 1,5 milhão de pesos dominicanos (cerca de 26.000 dólares no câmbio atual), acrescentou o padrasto, que vestia uma camiseta estampada com o rosto do enteado. "Não é fácil conseguir um visto para ir aos Estados Unidos (...), achou que por esta via seria mais fácil, mais rápido e parou aí".
Terrero assegurou que "nunca" concordou com esta viagem. "O último que me faltou foi praticamente esconder seu passaporte porque sabia que era uma via perigosa".
O padrasto não sabia do itinerário da viagem, apenas que seu enteado assegurava que não viajaria de caminhão. A travessia para os Estados Unidos estava prevista para acontecer no Texas.
Quase 1,2 milhão de dominicanos moram nos Estados Unidos, segundo o Migration Policy Institute. Representam 3% da população de migrantes no país.
A tragédia de 9 de dezembro ocorreu depois da reativação de um programa americano polêmico, que obriga os migrantes a esperarem no México pela resposta a seus pedidos de asilo.
Mais de 190.000 pessoas sem documentos foram registradas no México entre janeiro e setembro, o triplo de 2020. Cerca de 74.300 foram deportadas.
* AFP