Novos distúrbios abalaram as Ilhas Salomão nesta quinta-feira (25), o que fez com que a Austrália mobilizasse uma força de paz, com a rivalidade entre China e Taiwan como pano de fundo, enquanto Pequim se preocupa com seus interesses no arquipélago do Pacífico.
A China mantinha desde 1983 relações diplomáticas com Taiwan, mas em 2019 decidiu romper com o território e reconhecer o governo comunista de Pequim como o representante legítimo da China.
O gigante asiático considera Taiwan, de 23 milhões de habitantes, como uma de suas províncias, apesar de não controlar a ilha. Para a China, se qualquer país desejar estabelecer relações diplomáticas com ela, não reconhecer o governo de Taipei é um requisito indispensável.
Então, a decisão do governo das Ilhas Salomão provocou o ressentimento de parte da população que mantinha vínculos estreitos com Taipei.
Nesta quinta-feira, manifestantes incendiaram vários prédios na capital Honiara, no segundo dia consecutivo de distúrbios contra o governo e a comunidade chinesa.
Testemunhas e a imprensa afirmaram que muitas pessoas desafiaram o confinamento decretado pelo governo e tomaram as ruas. Vários edifícios foram atacados.
Na quarta-feira, centenas de manifestantes já haviam provocado incêndios em prédios, incluindo uma delegacia, e tentaram atacar o Parlamento para derrubar o primeiro-ministro Manasseh Sogavare.
O chefe de Governo da Austrália, Scott Morrison, anunciou nesta quinta-feira o envio de forças militares e policiais para ajudar a manter a paz no arquipélago que fica a 1.500 km da costa australiana.
"Nosso propósito aqui é dar estabilidade e segurança", disse Morrison, ao informar que recebeu um pedido de ajuda de Sogavare.
Um primeiro contingente, de aproximadamente cem militares e policiais, chegou nesta quinta-feira à noite, segundo a imprensa.
- China preocupada -
A China expressou imediatamente "grande preocupação" pelos seus interesses nas Ilhas Salomão.
"Pedimos ao governo das Ilhas Salomão que tome todas as medidas necessárias que garantam a segurança dos cidadãos e entidades chineses", disse à imprensa o porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian.
O primeiro-ministro do pequeno arquipélago discursou nesta quinta-feira à nação e lamentou um "acontecimento triste e infeliz que busca derrubar um governo democraticamente eleito".
A maioria dos manifestantes em Honiara procede da ilha vizinha de Malaita, cujos moradores se consideram ignorados pelo governo e criticam a decisão de 2019 de mudar o reconhecimento diplomático de Taiwan para China.
Negócios administrados pela comunidade chinesa de Honiara foram saqueados e queimados, o que levou a embaixada de Pequim a expressar "graves preocupações" ao governo das Ilhas Salomão e a pedir mais proteção para suas empresas e cidadãos.
O governo decretou toque de recolher durante 36 horas, mas os manifestantes desafiaram a medida nesta quinta-feira com novos protestos contra a polícia e estabelecimentos comerciais chineses na capital.
"Há multidões em movimento, a situação é tensa", declarou um morador à AFP, enquanto a imprensa local informou sobre saques e o uso de gás lacrimogêneo pela polícia.
Outras testemunhas publicaram imagens nas redes sociais que mostram a fumaça em vários pontos da capital e lojas - supostamente de propriedade de chineses - que eram alvos de ataques.
Várias comunidades de Malaita estabeleceram vínculos com Taipé e suas autoridades criticam a aproximação com a China, rejeitando os projetos de ajuda financiados por Pequim.
Este arquipélago de 700.000 habitantes, independente do Reino Unido desde 1978, registrou episódios de violência étnica desde o início dos anos 2000.
As rivalidades provocaram a presença entre 2003 e 2017 de uma força de paz liderada pela Austrália.
A capital Honiara registrou distúrbios após as eleições de 2006, quando o distrito de Chinatown foi alvo de ataques por boatos de que os negócios vinculados a Pequim haviam fraudado a votação.
* AFP