As forças etíopes retiraram-se de Dessie, uma cidade estratégica na região de Amhara, que faz fronteira com o Tigré, informaram neste sábado (30) à AFP moradores locais, após intensos combates e cortes de energia na cidade.
Caso essa informação se confirme, a queda da cidade para a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) seria um grande golpe para o governo federal, que está envolvido há quase um ano em uma guerra contra os rebeldes.
"Por volta das 2 da manhã, os soldados etíopes começaram a se retirar da área", disse Amir, morador de Dessie que não quis revelar seu nome completo.
Os combatentes da TPLF "entraram na cidade e os soldados da ENDF (Força de Defesa Nacional da Etiópia) não apareceram", contou outro morador, que se identificou apenas como Mohammed.
"Não sei se os soldados foram embora ou se foram capturados", disse à AFP Mohammed, que tentava fugir da localidade.
Nem a TPLF nem o governo se manifestaram imediatamente sobre a situação em Dessie.
Grande parte do norte da Etiópia está com as comunicações bloqueadas, enquanto o acesso de jornalistas é restrito, dificultando a verificação de forma independente das informações no local do conflito.
Dessie, que fica na região de Amhara, vizinha de Tigré, está localizada cerca de 400 quilômetros ao norte da capital da Etiópia, Adis Abeba.
Os residentes haviam relatado anteriormente um forte aumento da concentração militar na área, enquanto os civis que fugiram de cidades próximas afetadas pelo conflito mais ao norte se aglomeraram em Dessie para se refugiar.
Em 20 de outubro, a TPLF alegou que os rebeldes estavam "dentro do alcance da artilharia" de Dessie, e o presidente regional de Amhara, Yilkal Kefale, pediu no dia seguinte aos amharas armados que fossem para a cidade para defendê-la.
O conflito começou em novembro passado, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas para a região do Tigré e a operação se transformou em uma guerra prolongada, marcada por massacres, estupros em massa e uma ameaça iminente de fome.
O primeiro-ministro, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2019, afirmou que a operação foi uma resposta aos ataques pela TPLF a acampamentos do Exército.
A TPLF era o partido governante regional que dominou a política nacional por três décadas antes de Abiy assumir o cargo.
* AFP