Alex Saab, empresário acusado por promotores norte-americanos de criar uma rede global de empresas para ajudar o governo da Venezuela a fugir das sanções de Washington, foi extraditado no sábado (16) para os Estados Unidos.
Saab saiu de Cabo Verde, uma ilha da África Ocidental – onde estava detido desde junho de 2020 – em uma aeronave do Departamento de Justiça dos EUA, encerrando uma batalha de 16 meses pelo negociador nascido na Colômbia. Os promotores norte-americanos acusam Saab de ter canalizado mais de US$ 350 milhões de uma série de contratos do governo venezuelano por meio do sistema financeiro dos EUA.
De empreiteiro da habitação social na Venezuela, o colombiano Alex Saab passou a administrar uma rede gigante de importações para o governo de Nicolás Maduro, que lhe concedeu a nacionalidade venezuelana e um título de embaixador
No sábado, com a extradição em andamento, o regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro divulgou nota dizendo que "denuncia o sequestro do diplomata venezuelano Alex Saab pelo governo dos Estados Unidos".
O Departamento do Tesouro dos EUA também colocou Saab e seus cúmplices em uma lista de sanções, incluindo três enteados de Maduro, por supostamente usarem o programa alimentar do país e recursos de ouro para lavar ativos estatais roubados. Na Colômbia, que é aliada dos EUA contra Maduro, os promotores disseram no ano passado que estavam investigando as acusações de que Saab lavava dinheiro para traficantes de drogas.
Antes da sua prisão, não era de conhecimento público que Saab possuía nacionalidade venezuelana, nem que tivesse um título diplomático.
– O chavismo nunca fez tanto por alguém. O que explica que estejam movendo céu e terra, buscando dar a ele imunidade diplomática? – questionou o jornalista Roberto Deniz, do site Armando.info, que escreveu extensivamente sobre o caso Saab e contra quem pesa uma ordem de captura na Venezuela por "incitação ao ódio".
– É evidente que há muito medo, não apenas porque ele pode revelar informações sobre subornos, locais onde houve movimentação de dinheiro, preços inflados, mas também porque ele era o eixo de muitos desses negócios que o regime de Nicolás Maduro começa a fazer com outros países aliados – destacou Deniz.
O começo
Filho de um empresário libanês radicado em Barranquilla, Saab começou como vendedor de chaveiros promocionais, antes de ingressar no setor têxtil, com 100 armazéns que exportavam para mais de 10 países, segundo biografias oficiais.
"Guiado por seu espírito de empresário cosmopolita, busca transferir sua capacidade empreendedora para além da fronteira" e se muda para a Venezuela "interessado no ramo da construção", conta uma série em seu canal no YouTube intitulada "Alex Saab, agente antibloqueio".
O primeiro contrato que assinou na Venezuela foi em 2011, no palácio presidencial de Miraflores. Naquela época, Maduro era chanceler do presidente Hugo Chávez. Um jovem Saab fechou uma "aliança estratégica" para "a constituição e instalação de kits para a construção de casas pré-fabricadas". O então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, participou do evento.
Foi com a chegada de Maduro à presidência que Saab se tornou "quase que imediatamente o empreiteiro consentido e, depois, seu ministro plenipotenciário" nos bastidores, destacou Roberto Deniz. Segundo o jornalista, da habitação social Saab ganhou um contrato para a construção de ginásios no valor de 100 milhões de dólares, pagos antecipadamente, e um de petróleo com uma "empresa fantasma" sem experiência, que acabou caindo por reclamações de outras empresas do setor.
"Principal testa de ferro"
Maduro criou em 2016 os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (Clap), um plano de distribuição de alimentos subsidiados, em um momento de desabastecimento de mais de dois terços dos produtos básicos. Saab se tornou um dos fornecedores, conseguindo "importantes acordos comerciais", segundo sua série no YouTube.
Em 2018, de acordo com essa versão, ele assumiu "como funcionário público" a "missão" de adquirir na Rússia e no Irã "alimentos, remédios, peças de reposição para as refinarias e diferentes empresas".
Saab se orgulha, por exemplo, da rota de combustível iraniano que criou "por instruções, orientação e visão do presidente Nicolás Maduro", que, em 2017, disse não conhecer. O Irã enviou navios com gasolina à outrora potência petrolífera, alvo de um embargo dos EUA que atingiu Maduro com sanções em busca de sua queda.
A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega classificou Alex Saab como "principal testa de ferro da autocracia" de Maduro e sua família, e declarou que a extradição do mesmo "é uma conquista para aqueles de nós que buscam justiça contra os responsáveis pela tragédia e o caos que os venezuelanos vivem".