A ONG Human Rights Watch denunciou, nesta quarta-feira (8), casos de abusos, muitos deles de caráter sexual, nas distribuições de ajuda alimentar no nordeste de Moçambique, região afetada por uma crise humanitária originada por uma insurreição extremista.
Funcionários locais da província de Cabo Delgado exigiram favores sexuais ou dinheiro a algumas mulheres em troca de alimentos fornecidos por programas humanitários internacionais, explicou à AFP Zenaida Machado, pesquisadora na HRW.
"Está muito espalhado, é uma prática comum", lamentou.
Um representante das autoridades locais, contatado pela AFP, afirmou que não tinha conhecimento desses comportamentos.
Desde o final de 2017, grupos armados extremistas impõem um regime de terror na província de Cabo Delgado, perto da fronteira com a Tanzânia e que dispõe de ricas reservas de gás natural, embora sua população, majoritariamente muçulmana, seja muito pobre.
Um ataque violento em março provocou dezenas de mortes na cidade costeira de Palma e acentuou esta crise humanitária.
O conflito obrigou mais de 800.000 pessoas a abandonarem suas casas e causou mais de 3.100 mortes, a maioria delas de civis, segundo a ONG Acled.
Para distribuir a ajuda alimentar, as autoridades fazem listas das pessoas deslocadas, que servem para selecionar os beneficiários dos alimentos. Mas há abusos por parte de funcionários locais.
"Em troca da inscrição nas listas, autoridades locais exigem favores sexuais a mulheres e meninas vulneráveis", alertou em outubro do ano passado um relatório do Center for Public Integrity (CIP), uma ONG local.
"Tudo isso acontece em um contexto em que as pessoas deslocadas são frágeis, com mulheres e menores vulneráveis", lembrou à AFP o diretor do CIP, Edson Cortez.
"As autoridades devem estabelecer um sistema para que esses abusos sejam denunciados", acrescentou.
* AFP