A China rejeitou nesta quinta-feira (22) a proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de auditar os laboratórios chineses como parte de uma investigação mais ampla sobre as origens da pandemia de covid-19, alegando que a ideia é "arrogante".
Esta proposta é "desrespeitosa ao bom senso e arrogante para com a ciência", declarou o vice-ministro da Saúde da China, Zeng Yixin, a repórteres, antes de destacar que estava "extremamente surpreso".
Na semana passada, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, propôs fazer "controles dos laboratórios ou estabelecimentos de pesquisa ativos na região onde foram identificados os primeiros casos (de covid-19) em dezembro de 2019", uma referência à cidade chinesa de Wuhan, o epicentro da pandemia que abala o mundo.
Em 31 de dezembro de 2019, a China revelou à OMS a existência de um surto de casos de pneumonia em Wuhan.
A teoria de um vazamento de um laboratório chinês foi promovida pela administração norte-americana de Donald Trump (2017-2021), mas descartada por especialistas durante muito tempo. Porém, nas últimas semanas a teoria ganhou nova força nos Estados Unidos.
A China luta vigorosamente contra a teoria de que a covid-19 pode ter se originado em um de seus laboratórios, principalmente o Instituto de Virologia de Wuhan, e se espalhado devido a um vazamento.
Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas e a imprensa do país apontam regularmente para o laboratório de Fort Detrick, nos Estados Unidos, como possível local de origem da covid-19. Localizado próximo a Washington, este laboratório está no centro da pesquisa americana contra o bioterrorismo.
De acordo com o Global Times, um jornal chinês de tom nacionalista, 5 milhões de internautas chineses assinaram uma petição para a abertura de uma investigação sobre Fort Detrick.
"Não aconteceu vazamento"
Por sua vez, um dos diretores do Instituto de Virologia de Wuhan, Yuan Zhiming, afirmou nesta quinta-feira que "não aconteceu nenhum vazamento de patógenos" nem "infecção acidental de funcionário" desde a inauguração do local em 2018.
O vice-ministro chinês da Saúde, Zeng Yixin, respondeu ao que chamou de "boatos", insistindo que o laboratório "nunca organizou pesquisas de ganho de função em coronavírus, nem tampouco em um suposto vírus criado artificialmente."
Suas declarações estão relacionadas com o tipo de pesquisa científica que se aponta como a origem de um possível vazamento.
Sob pressão crescente por uma investigação da origem da covid-19, a OMS só conseguiu enviar uma missão de especialistas internacionais a Wuhan em janeiro, mais de um ano após o surgimento do vírus.
Recentemente, a organização acusou a China de não ter compartilhado dados brutos suficientes durante a primeira parte da investigação. O diretor-geral da OMS pediu a Pequim que atue de modo "transparente, aberta e que coopere" na segunda fase, que inclui auditar laboratórios chineses.
Além disso, Tedros Adhanom Ghebreyesus pediu mais estudos sobre os mercados de animais de Wuhan e seus arredores.
A resposta das autoridades chinesas veio poucos dias antes da visita ao país, marcada para o fim de semana, de Wendy Sherman, número dois da diplomacia dos Estados Unidos. O objetivo da viagem é recuperar as deterioradas relações entre os dois países.
Esta será a visita de maior nível diplomático da administração do presidente Joe Biden, em um momento de grande tensão com a China pelas críticas dos dois lados sobre a origem da pandemia, os direitos humanos e a segurança cibernética.