O isolamento internacional do regime bielorrusso cresceu nesta terça-feira (25) com a decisão da União Europeia (UE) de cortar as conexões aéreas, após a decisão de Minsk de desviar um avião para deter um opositor.
A oposição de Belarus pediu que Estados Unidos e G7 aumentem a pressão sobre o regime de Alexander Lukashenko, que enfrentará novas sanções europeias, anunciadas pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas.
Nesta terça, Maas alertou que Lukashenko pagará "um preço alto" pelo "horrível" desvio do avião comercial que foi forçado a pousar em Minsk para a prisão de um dissidente. "Qualquer ditador que joga com essas ideias deve entender que pagará um preço alto", afirmou Maas em Berlim.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas realizará uma reunião informal a portas fechadas na quarta-feira, informaram fontes diplomáticas.
A UE decidiu na segunda-feira fechar seu espaço aéreo a Belarus e adotar um novo pacote de sanções contra autoridades e instituições da ex-república soviética, situada entre o bloco e a Rússia.
Por sua vez, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) anunciou que havia entrado com um processo na Lituânia contra Lukashenko por "desvio (de avião) com fins terroristas".
Após uma conversa por telefone com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, a líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, pediu no Twitter a Washington para "isolar o regime e pressioná-lo com sanções".
A candidata nas eleições de 2020, exilada na Lituânia, também fez um apelo para o G7 tratar do tema em sua próxima cúpula.
- Coação -
O regime de Lukashenko é acusado de desviar para Minsk um voo que fazia a rota Atenas-Vilnius no domingo por uma suposta ameaça de bomba, que resultou falsa, para deter o jornalista opositor Roman Protasevich e sua companheira, a russa Sofia Sapega.
O ministério dos Transportes publicou nesta terça-feira a transcrição do diálogo entre o piloto e o controlador aéreo. Este último comunica que "há uma bomba a bordo" e "recomenda" o pouso em Minsk.
Na segunda-feira, a Força Aérea, que enviou um caça MiG-29 para interceptar o voo, afirmou que a escolha do aeroporto foi do piloto da Ryanair.
A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou "nada confiável" a versão bielorrussa, que citou uma ameaça de bomba atribuída ao movimento islamita palestino Hamas.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também pediram a "libertação imediata" do jornalista.
Protasevich, de 26 anos, foi chefe de redação do influente meio de comunicação opositor Nexta, que coordenou a mobilização dos bielorrussos durante os protestos de 2020 contra a polêmica reeleição de Lukashenko.
O regime de Minsk o acusa de envolvimento em "atividades terroristas". A televisão bielorrussa exibiu na segunda-feira um vídeo do jovem, gravado em uma prisão da capital, segundo a emissora, no qual ele confessa ter organizado "distúrbios".
As autoridades de Belarus divulgam com frequência confissões de dissidentes do regime gravadas sob coação, como aconteceu com Svetlana Tikhanovskaya antes de seu exílio em Vilnius no ano passado.
Para a opositora, "não há dúvida de que Roman foi vítima de tortura" na prisão. O pai do jornalista, Dmitri Protasevich, que mora na Polônia, afirmou à AFP que o filho foi agredido e parecia nervoso nas imagens.
"Eu imploro, peço a toda comunidade internacional que o salve", disse Natalia Protasevich, mãe do opositor, à AFP em lágrimas.
Diante das críticas ocidentais, a Rússia, aliada de Lukashenko, reforçou o apoio. O chefe da diplomacia de Moscou, Serguei Lavrov, afirmou que o ponto de vista de Belarus é "razoável".
O governo de Belarus anunciou que convidou várias organizações internacionais a viajar a Minsk para estabelecer as "circunstâncias" do desvio do avião.
- Novas sanções -
As sanções adotadas pela UE já apresentaram os primeiros resultados. Companhias aéreas importantes, como Air France e Lufthansa, anunciaram que evitarão sobrevoar o céu de Belarus, por onde passam a cada semana quase 2.000 aviões comerciais, segundo a Eurocontrol.
As novas sanções se somam às já adotadas pelos países ocidentais após a repressão do governo de Lukashenko, no poder desde 1994, às manifestações de 2020 contra sua reeleição em uma votação que não tem o resultado reconhecido pela UE.
As sanções do bloco afetam 88 altos funcionários, incluindo o presidente, e sete instituições. Apesar das medidas, o regime não interrompeu a repressão e intensificou as detenções ou o exílio forçado de críticos.
Nesta terça-feira, o líder de um partido opositor em Belarus, Pavel Severinets, e outros seis ativistas foram condenados a penas de entre 4 e 7 anos de prisão pelos protestos de 2020.
* AFP