Paul Rusesabagina, estrela do filme "Hotel Ruanda", julgado desde meados de fevereiro em Kigali por "terrorismo", não compareceu a seu julgamento nesta quarta-feira (24) e informou às autoridades penitenciárias que não vai comparecer às audiências por acreditar que seu direito de defensa foi violado.
Rusesabagina, de 66 anos, ex-diretor do hotel das Mil Colinas de Kigali, ficou famoso por um filme de 2004 que conta como ele salvou mais de 1.000 pessoas durante o genocídio de Ruanda.
Este hutu moderado havia se tornado um crítico do regime do então presidente de Ruanda, Paul Kagame.
Vivia no exílio desde 1996, nos Estados Unidos e na Bélgica, e foi detido no final de agosto em Ruanda, em circunstâncias especiais, quando saiu de um avião que pensava ir para o Burundi. Ele e seus advogados denunciam um "sequestro".
Paul Rusesabagina enfrenta nove acusações, uma delas de terrorismo. Está sendo julgado por apoiar a Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de ter lançado ataques mortais em Ruanda nos últimos anos.
Em 12 de março, anunciou sua intenção de boicotar as audiências, ao considerar que seus direitos "foram violados" após a negação de seu pedido de adiamento do julgamento por pelo menos seis meses para preparar sua defesa.
Sua família diz não ter acesso às mais de 5.000 páginas de seu arquivo.
Ele está sendo julgado junto com 20 outros réus, "que se confessaram culpados e o incriminaram", disse Kitty Kurth, porta-voz da Fundação Hotel Ruanda.
Na quarta-feira, uma das principais testemunhas da acusação, Michelle Martin, uma americana que trabalhou para a Fundação Rusesabagina há uma década, prestou depoimento por três horas.
Martin alegou que havia sido informada sobre e-mails "sobre o financiamento de atividades rebeldes" e acusou Rusesabagina de "negar o genocídio". Além disso, afirmou que assim que descobriu que ele estava "envolvido em atividades que pareciam ilegais", ela "entregou tudo às forças de segurança dos Estados Unidos".
Segundo ela, atuou como informante em uma investigação de 2012 contra Rusesabagina nos Estados Unidos, mas também trabalhou em nome de Kigali, para o qual teve que se declarar uma "agente estrangeira" junto às autoridades norte-americanas.
* AFP