Após a assinatura do acordo negociado pela Rússia, os soldados da paz russos se encontram estacionados no centro de Nagorno Karabakh, separando os beligerantes nas novas posições conquistadas pelas forças azerbaijanas.
Com o uniforme marcado com as letras MC - "Forças de Paz" em russo -, os soldados já controlavam os arredores de Stepanakert, a capital desse enclave, na sexta-feira, vigiando os acessos à linha de frente próxima, agora em calma.
As armas ainda estão lá, mas não ressoam mais.
"Todas as linhas de frente estão tranquilas desde o anúncio do acordo", disse um suboficial à AFP.
Uma estranha tranquilidade substituiu os violentos combates das últimas sete semanas, assim como os bombardeios que faziam os edifícios de Stepanakert tremerem todos os dias.
Na saída sudoeste da cidade, ainda controlada pelas forças armênias, dezenas de soldados russos e seus blindados tomaram posição em uma rotunda.
Parcialmente desfigurada por foguetes, Stepanakert é uma cidade fantasma. As autoridades locais pediram aos habitantes que voltem o mais rápido possível, mas quase todas as lojas estão fechadas, e o último supermercado aberto foi roubado.
- 'Um massacre' -
A estrada que leva a Shusha, uma fortaleza estratégica localizada no topo de uma montanha a cerca de dez quilômetros de distância, foi conquistada pelas tropas de Baku. Agora, seu acesso está proibido pelas forças russas e bloqueado por barreiras do Azerbaijão.
Na passagem russa, os soldados armênios ajudam a inspecionar os veículos, tomando outra estrada em direção a Martuni, mais ao sul do enclave e ainda sob seu controle.
"Verificamos a identidade, os passaportes. Garantimos que não haja armas nos veículos, não bloqueamos", explica um militar russo.
O ambiente é descontraído. Russos e armênios conversam tranquilos, fumando cigarros. Alguns ocupantes dos veículos controlados chegam a dar mantimento, pão, doces, ou cigarro aos soldados.
"Se os russos não tivessem vindo, teríamos perdido tudo", estima Artik, que se aproximou, como muitos outros, da barreira russa.
"Não foi uma guerra, foi um massacre", denuncia um jovem soldado, com as mãos nos bolsos do casaco com gola de pele.
"Os azerbaijanos tinham de tudo: drones, apoio dos turcos, mercenários sírios ... Então, é bom que os russos estejam aqui", comentou.
"Sem o cessar-fogo e sua intervenção, Stepanakert teria sido invadida", acredita.
- Cadáveres e franco-atiradores -
Um acordo de paz assinado entre Armênia e Azerbaijão, negociado pela Rússia, pôs fim a sete semanas de intensos combates na autoproclamada república de Nagorno Karabakh.
De acordo com o texto do pacto, cerca de 2.000 soldados russos serão em breve posicionados em toda região separatista, em torno das antigas linhas do "front" de Martakert (norte) e Martuni.
A zona que cercae Stepanakert tem uma particularidade, devido à proximidade dos beligerantes e à importância que cada lado lhe confere: Stepanakert é a capital do enclave, Shusha é para Baku uma cidade historicamente azerbaijana.
Essas montanhas são, acima de tudo, estratégicas, pois têm acesso a todo Nagorno Karabakh sob controle armênio - ou o que resta dele.
No cordão russo que leva a Shusha, alguns homens se aproximam para perguntar sobre seus parentes, desaparecidos e outros dos quais não têm notícias. Muitos corpos ainda jazem na estrada ao redor de Shusha, de acordo com uma testemunha.
Na tarde de ontem, familiares dos desaparecidos esperavam para recolhê-los.
"Há franco-atiradores por toda parte", avisa um deles.
* AFP