Quando a tortuosa eleição presidencial dos Estados Unidos parecia estar caminhando para um desfecho, Donald Trump disse, na quinta-feira (6), que estão "roubando" seu segundo mandato.
Sua presença diante da imprensa na Casa Branca foi sua primeira aparição pública em mais de 36 horas e aconteceu depois de um dia em que seus tuítes revelaram seu desespero com o avanço de seu rival nas urnas, o democrata Joe Biden, rumo à vitória.
Em sua declaração de 17 minutos, ele fez comentários incorretos e se retirou da sala sem responder os jornalistas.
A AFP analisa seus comentários:
- Votos 'ilegais' -
"Se contarem os votos legais, eu ganho facilmente. Se contarem os votos ilegais, eles podem tentar nos roubar a eleição", disse Trump.
A apuração está em andamento. O presidente pareceu estar marcando um contraste entre os votos emitidos no dia da eleição (3 de novembro) e os que chegaram pelo correio e começaram a ser contados depois.
Em vários estados importantes, incluindo a Pensilvânia, onde ele precisa vencer se quiser manter as esperanças de vitória, os votos presenciais começaram a ser contados no encerramento das urnas na última terça-feira e lhe deram uma ampla vantagem sobre Biden.
Essa vantagem começou a diminuir, porém, à medida que eram contados os votos enviados pelo correio, ou aqueles depositados em urnas oficiais. Ambas as formas de voto são válidas.
- Voto por correio -
"Há muito tempo que falo sobre o voto pelo correio. Isso realmente destrói nosso sistema. É um sistema corrupto", atacou.
Ao longo da campanha, Trump disse repetidamente que o voto por correio geraria uma "manipulação" da eleição. Tanto as autoridades americanas quanto os observadores estrangeiros disseram que não houve fraude.
"De repente, os votos estão sendo encontrados. É assombroso como esses votos por correspondência são tão unilaterais", disse ele, ainda que suas advertências possam influenciar os eleitores republicanos contra o voto pelo correio.
O voto por correio já era admitido nos Estados Unidos antes da pandemia da covid-19 e foi por causa da pandemia este ano que esse sistema se expandiu para níveis recordes.
"Simplesmente não há sustentação para a teoria da conspiração de que votar pelo correio gera fraude", disse Ellen Weintraub, membro da Comissão Eleitoral Federal dos Estados Unidos, meses atrás.
"Levamos muito a sério qualquer ameaça relacionada à eleição", disse o diretor do FBI (a Polícia Federal americana), Christopher Wray, a um comitê de segurança do Senado em setembro deste ano.
"Historicamente, não vimos nenhum tipo de esforço coordenado para uma fraude nacional em uma grande eleição, fosse por correio, ou de outra forma", garantiu ele.
- Declaração de vitória -
"Estávamos ganhando em todos os lugares-chave, e realmente por muito, e então nossos números começaram a se reduzir em segredo", denunciou Trump.
Ele insiste em que ganhou "com folga" nos estados decisivos da Pensilvânia e da Geórgia e que saiu vitorioso no Michigan.
Trump esteve à frente nesses três estados, mas, à medida que os votos por correspondência eram contados, sua vantagem foi caindo.
Biden agora tem uma liderança significativa em Michigan - onde já seria o vencedor, conforme projeções de emissoras de televisão americanas - e vem diminuindo rapidamente a diferença na Pensilvânia.
A liderança de Trump no estado sulista da Geórgia caiu para 0,1%, enquanto ele falava.
"Estão tentando fraudar as eleições", disse Trump sobre seus oponentes, mas sem fornecer elementos para apoiar essa afirmação.
* AFP