A China tem a possibilidade de seguir reformulando a agenda comercial da Ásia-Pacífico na cúpula da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec), dias depois de promover um ambicioso pacto regional, enquanto os Estados Unidos continuam mergulhados no protecionismo defensivo.
Programado para acontecer de forma virtual em 20 de novembro, devido à pandemia de coronavírus, o fórum da Apec reúne 21 economias da bacia do Pacífico, incluindo as duas maiores economias do mundo - Estados Unidos e China -, que respondem por 60% do total do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
México, Peru e Chile são os países latino-americanos que integram este fórum.
A China se tornou a força dominante neste grupo, enquanto os Estados Unidos, desde a eleição de Donald Trump em 2016, deram as costas ao multilateralismo e optaram pela política de "América Primeiro" (no original, "America First") do atual ocupante da Casa Branca.
O presidente chinês, Xi Jinping, será o centro das atenções nesta cúpula e fará um discurso sobre "O Futuro da Cooperação Internacional" na abertura, na quinta-feira (19), deste evento de dois dias.
"Os Estados Unidos, ainda sob o protecionismo do governo Trump, provavelmente não terão um papel proativo na Apec este ano", afirmou Oh Ei Sun, analista do Singapore Institute of International Affairs.
"Consequentemente, é quase inevitável que a China tente impor, como nunca antes, sua visão de comércio", acrescentou.
Os Estados Unidos ainda não anunciaram quem será seu representante no evento.
Trump já ignorou a mais recente cúpula asiática promovida pela China. No último domingo, o evento terminou na assinatura, por parte de 15 países da Ásia e do Pacífico, de um ambicioso acordo comercial: a Associação Econômic Integral Regional (RCEP, na sigla em inglês).
O RCEP pretende criar uma gigantesca zona de livre-comércio entre as dez nações que compõem a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) junto com China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
- Tensões comerciais -
Durante os quatro anos da Presidência de Trump, todas as cúpulas da Apec foram marcadas pela escalada comercial entre China e Estados Unidos, com uma guerra de tarifas de ambas as partes sobre bens no valor de vários bilhões de dólares.
Na última reunião da Apec, em 2018, os membros do fórum não conseguiram, pela primeira vez, chegar a um acordo sobre um texto comum, devido às enormes divergências entre Pequim e Washington.
Com Biden assumindo a presidência dos Estados Unidos a partir de 20 de janeiro próximo, existe a esperança de um maior compromisso dos Estados Unidos com a Apec e com outras instituições, ou organizações internacionais.
"Houve muita turbulência durante o governo que termina seu mandato", disse Cai Daolu, especialista em comércio internacional da Singapore Business School.
"A visão otimista é que (o novo governo dos Estados Unidos) traga mudanças no que diz respeito à política comercial", acrescentou.
Ainda assim, os observadores alertam que a prioridade de Biden será combater a pandemia do coronavírus nos Estados Unidos. Além disso, consideram difícil que Biden vá aderir em massa a acordos comerciais internacionais, dada a forte oposição interna que deverá enfrentar.
Segundo analistas, a cúpula da Apec, que este ano está sob responsabilidade da Malásia, não deve trazer grandes novidades, ou medidas concretas. A expectativa é que fórum - que também inclui Japão e Rússia - estimule a cooperação internacional na luta contra a pandemia.
* AFP