"Oh, meu filho!". Ajoelhada sobre o túmulo de um soldado azerbaijano morto em Nagorno Karabakh, uma mãe reza e chora. Ao longe, ressoa o barulho dos projéteis que caem sobre a linha de frente.
"Deixou sua mãe sozinha. Suas irmãs também. Que seu sangue não seja derramado em vão", continuou a mãe, limpando a foto emoldurada do jovem, morto aos 29 anos, e que leva em seu túmulo uma bandeira do Azerbaijão.
O filho de Aybeniz Khasanova morreu nos primeiros dias dos combates, que foram retomados em 27 de setembro entre os opositores separatistas armênios e o Exército azerbaijano.
Essas hostilidades são as mais mortais desde o cessar-fogo de 1994, que encerrou os confrontos que custaram a vida de 30.000 pessoas.
Embora ninguém saiba quantos soldados o Azerbaijão perdeu nesta retomada do conflito, já que seu governo não divulga os saldos, sabe-se de ao menos 600 militares armênios mortos.
A AFP foi autorizada pelo governo azerbaijano a se reunir com a família de um dos soldados mortos na cidade de Quzanly, sempre com a condição de não revelar detalhes sobre o cemitério, ou as circunstâncias de sua morte.
Elchane, o jovem primo do soldado morto, conta que toda família tentou convencê-lo a abandonar o Exército antes da retomada da guerra, considerada inevitável para muitos em ambos os países.
Mas foi em vão. "Ele queria ser soldado desde criança", explica.
Para os armênios, que são cristãos, e para os azerbaijanos, xiitas que falam turco, os vales férteis e as montanhas de Nagorno Karabakh são terras ancestrais, sobre as quais o adversário não tem soberania.
Hoje, a região separatista é povoada, em sua maioria, por armênios, mas continua sendo reconhecida como azerbaijana pela comunidade internacional.
- Orgulho e dor -
Nos últimos 30 anos, todos os esforços internacionais para encontrar uma solução pacífica fracassaram.
A trégua humanitária negociada na semana passada pela Rússia, potência regional que armava ambas as partes, nunca foi colocada em prática.
Após três semanas de confrontos, o Azerbaijão recuperou algumas áreas e a Armênia considera a situação no front "grave". Nenhum lado parece ter tomado, porém, uma vantagem decisiva. Nos dois países, o fervor patriótico impera.
Na família do soldado morto, reina o orgulho misturado com a dor.
Apesar dos bombardeios e dos bloqueios dos militares, a tia do falecido vai todos os dias ao cemitério, quase duas semanas após o drama.
Triste, ela não esconde o orgulho que sente do sobrinho: "Era um jovem muito valente", afirmou. "Morreu por seu país".
Elchane, o primo jovem, está atormentado pela dor. "Estou destruído por dentro. Era um cara muito corajoso", comenta.
"É muito difícil para nós", admite ele.
* AFP