A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, anunciou nesta segunda-feira (26) o início de greves para exigir a saída do presidente Alexander Lukashenko, um dia após uma grande manifestação contra o poder em Minsk.
"Desde esta manhã, funcionários de empresas públicas e de fábricas, do setor de transportes, mineiros, professores e alunos começaram a greve", afirmou Tikhanovskaya pelo aplicativo de mensagens Telegram.
A militante convocou seus compatriotas a mostrarem que "ninguém vai trabalhar" para o regime de Lukashenko.
"A greve nas empresas públicas é uma alavanca de pressão econômica. E, no setor privado, é uma demonstração de solidariedade de cada um. É tão importante quanto", acrescentou.
Principal figura da oposição, atualmente exilada na Lituânia, Tikhanovskaya, 38 anos, lançou este mês um ultimato a Lukashenko, dando-lhe até domingo, 24 de outubro, para deixar o cargo. Em caso contrário, ela convocaria uma greve geral.
Em uma entrevista transmitida pelo YouTube, a exilada afirmou que este foi apenas "o começo" e afirmou que "mais de sete milhões de dólares" em doações foram coletados para ajudar os grevistas.
O Estado continua controlando grande parte da economia em Belarus. As greves precedentes em fábricas emblemáticas do país não duraram muito tempo, diante das intimidações das autoridades e das ameaças de demissões.
Segundo um jornalista da AFP, cerca de 2.500 manifestantes, em sua maioria estudantes e aposentados, marcharam à tarde por uma das principais vias da capital, entoando gritos anti-Lukashenko e segurando bandeiras vermelhas e brancas, as cores da oposição.
"Eu me manifesto contra os que se apoderaram ilegalmente do poder", declarou Maria Buriak, de 74 anos.
Ivan Projorov, estudante, disse que quer viver em um país "onde é o povo quem tem o poder, não a tropa de choque".
Nas redes sociais, veículos de mídia da oposição postaram vídeos que mostravam a polícia dispersando manifestações. De acordo com a ONG Viasna, mais de 180 pessoas foram detidas nesta segunda-feira, sobretudo em Minsk.
- Pressão sobre os grevistas -
O meio de comunicação independente Tut.by publicou imagens que mostram dezenas de operários parados, ou em ações de solidariedade em pelo menos quatro grandes fábricas públicas, especialmente na química Grodnoazot, região oeste de Belarus.
Até momento, contudo, nenhuma greve em massa foi relatada. Uma porta-voz do governo disse na manhã de segunda-feira que as empresas operavam normalmente.
"É difícil saber até onde as pessoas seguirão, devido à grande pressão das autoridades", afirmou à AFP Alexander Yaroshuk, presidente do Congresso Bielo-Russo de Sindicatos Democráticos, acrescentando que não convocou a greve.
"Uma parte dos nossos funcionários aderiu à greve", afirmou Natalia Bezrukova, de 54 anos, grevista de uma companhia pública de construção entrevistada pela AFP no centro da capital.
A oposição de Belarus exige a saída de Alexander Lukashenko, de 66 anos e no poder desde 1994, desde as eleições de 9 de agosto, consideradas fraudulentas.
Desde então, o movimento de protesto sofre uma pressão constante das autoridades.
Em uma declaração conjunta lida nesta segunda-feira na ONU, 53 países e entidades observadoras pediram que "cesse a violência e que os responsáveis por violações dos direitos humanos sejam perseguidos".
"Pedimos a libertação imediata e incondicional dos prisioneiros políticos e de todos aqueles que foram detidos de forma arbitrária", acrescentou o texto da declaração, impulsionada pela Estônia.
No domingo, mais de 100.000 pessoas foram às ruas de Minsk manifestar sua rejeição ao governo Lukashenko, em mais um protesto marcado pela repressão policial. As forças de segurança usaram bombas de efeito moral para dispersar a multidão. De acordo com o Ministério do Interior, um total de 523 pessoas foram detidas nos protestos.
Para o cientista político Artiom Chraïbman, se a oposição conseguir recuperar a iniciativa e mobilizar outra vez tantas pessoas, poderia "empurrar o adversário ao erro".
"Por medo de que cada vez mais gente volte às ruas, o poder terá que mudar sua tática: ou cede com força [libertar os presos políticos, acelerar uma reforma constitucional], ou vai além na repressão", comentou pelo Telegram.
Depois da brutal repressão nos dias posteriores às eleições, as autoridades advertiram este mês que usariam munição letal, "se necessário". A ameaça, no entanto, não impediu novas manifestações.
O presidente Lukashenko, apoiado pela Rússia, não mostrou nenhuma intenção de ceder à oposição.
Apesar de contar com o apoio de Moscou, ele está sob a ameaça de sanções da União Europeia (UE), que rejeitou os resultados da eleição presidencial e já anunciou a aplicação de sanções a 40 funcionários do regime de Minsk.
* AFP