À primeira vista, a cidade parece quase deserta. Mas no subsolo, em porões, garagens e depósitos, Stepanakert, a capital da região separatista de Nagorno-Karabakh, é um formigueiro que enxameia para ajudar os homens que lutam contra o exército do Azerbaijão.
As sirenes de alerta soam há vários minutos, anunciando uma salva iminente de foguetes ou o sobrevoo de drones. Enquanto isso, nota-se uma atividade discreta em uma fábrica têxtil, aparentemente paralisada e localizada no alto da cidade.
Nas proximidades, alguns veículos estacionados, e alguns homens, vestidos à paisana ou uniformizados da cabeça aos pés, entram e saem discretamente do edifício.
Os andares estão vazios, é no grande porão onde tudo acontece.
Socorristas e enfermeiros estão ocupados limpando as macas forradas de tecido cáqui, aparentemente usadas na evacuação dos feridos do campo de batalha, e colocando-as em quatro velhas picapes UAZ da era soviética da frota do serviço de emergência local, prontas para retornar à linha de frente.
Em uma sala adjacente, dezenas de caixas com café, barras de chocolate, cigarros e outros suprimentos são acumulados, coletados em Yerevan e outras cidades armênias para abastecer as tropas.
No chão estão dezenas de picaretas e pás, reluzentes e novas em sua embalagem original, que servirão para escavar as posições de avanço e encher os sacos de areia, proteção básica do soldado.
Ao fundo, em um grande hangar sem janelas, uma dezena de pessoas trabalha incansavelmente, sob luzes de néon, com máquinas de costura.
"Estávamos trabalhando nos andares superiores, descemos ao porão há uma semana para nos proteger das bombas", explica Sanasar Tevonyan, ao desenhar um padrão em um tecido verde com uma estampa de camuflagem.
- "Pelos nossos" -
Sanasar, de 62 anos, veio da Rússia "para lutar", mas foi considerado "muito velho" para ir para a linha de frente. "Aqui me sinto útil".
A fábrica produzia fios para tapetes e jaquetas que eram exportados para a Itália. Agora confecciona uniformes, sacos de dormir e coletes.
Toda a população deste enclave armênio apoia, cada um à sua maneira, os homens que lutam contra o Azerbaijão no front, no que pode ser um sinal dos anos de guerra que devastaram este povo montanhês.
Alguns funcionários da fábrica optaram por fugir para Yerevan com suas famílias. Já Bella Hayeapetyan, de 60 anos, decidiu ficar.
"Por nossos filhos, nossos irmãos, nossos maridos, que estão lutando na frente", diz ela sem rodeios, com óculos na ponta do nariz e vestindo uma jaqueta de lã.
Cada vez mais jovens voluntárias vêm à fábrica, prontas para ajudar. "Algumas não sabem nada, tive que ensinar a costurar", explica a mulher. É o caso de Maria Miqayelyan, de 36 anos.
"Este é um país pequeno. Todas as famílias têm alguém no front. Tudo o que fazemos, fazemos pelos nossos e pelo nosso país", enfatiza, costurando os bolsos de um colete militar.
"Não há uma única família que não participe, de uma forma ou de outra, da guerra" travada a cerca de 30 quilômetros dali, acrescentou.
Essas voluntárias trabalham 24 horas por dia, às vezes até meia-noite. Algumas dormem na oficina.
Todos os dias, vários veículos chegam do front para recolher o material pronto.
"Todos nós temos um parente na guerra, e qualquer um que defenda nossa terra na linha de frente é nosso irmão", proclama Bella desafiadora, sem dar descanso à máquina de costura.
* AFP