Os habitantes da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte(RTCN), reconhecida apenas pela Turquia, votavam neste domingo (11) para eleger seu líder, uma eleição que opõe o atual presidente e crítico do chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, ao candidato de Ancara.
A eleição "presidencial" acontece num contexto de tensões no Mediterrâneo oriental sobre a exploração de hidrocarbonetos entre Ancara e Atenas, principal aliada da República de Chipre, que exerce a sua autoridade em dois terços da parte sul da ilha e que pertence à União Europeia.
A RTCN, onde vivem cerca de 300.000 pessoas, cobre o terço norte da ilha, ocupado desde 1974 pela Turquia em reação a um golpe que pretendia anexar Chipre à Grécia. A Turquia, cuja costa fica a cerca de 80 km de Chipre, vê a ilha como um elemento-chave em sua estratégia de estender suas fronteiras marítimas.
Em uma escola na parte norte de Nicósia, a última capital dividida do mundo, os eleitores chegavam de máscara devido ao coronavírus, confirmaram jornalistas da AFP presentes no local.
Cerca de 199.000 eleitores estão registrados. No final da manhã, a participação em Nicósia era de 17,02%, segundo o Conselho Eleitoral.
- "Crucial" -
Onze candidatos concorreram à eleição, incluindo o "presidente" Mustafa Akinci, favorito nas urnas.
O presidente é um social-democrata de 72 anos a favor da reunificação da ilha e da redução dos laços com Ancara, o que lhe rendeu a hostilidade do presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
"Esta eleição é crucial para o nosso destino", declarou Akinci a repórteres após a votação, expressando preocupação pela saúde dos cipriotas turcos por causa da pandemia, mas também pela "saúde da política" na RTCN.
Até o momento, a RTCN confirmou 400 casos de covid-19 e quatro mortes.
O dirigente denunciou "a intervenção da Turquia" na eleição e o "uso que as autoridades turcas [na RTCN] fizeram de seus colégios como se fossem gabinetes de campanha".
A Turquia apoia abertamente o principal rival de Akinci, o nacionalista Ersin Tatar, de 60 anos, atualmente o "primeiro-ministro" do governo e sobre quem repousa grande parte dos poderes executivos.
"A RTCN e seu povo formam um Estado (...) Merecemos viver [governados] em igual soberania", declarou Tatar em frente ao colégio eleitoral, sob aplausos de alguns apoiadores, dando a entender que apoia a divisão definitiva da ilha em dois Estados soberanos.
Há anos, as negociações para reunificar a ilha esbarram na questão da retirada dos quase 30.000 soldados turcos destacados no terço norte.
"Esta eleição é importante porque elegemos o presidente que negociará com os cipriotas gregos sobre o futuro de Chipre", explicou Esat Tulek, um funcionário público aposentado de 73 anos que votou em Nicósia.
As urnas devem permanecer abertas até às 18h00 (12h00 de Brasília) e os resultados deverão ser anunciados logo em seguida. Se nenhum dos candidatos obtiver 50% dos votos, os dois primeiros se enfrentam em um segundo turno, no dia 18 de outubro.
* AFP