Dois líderes da oposição bielorrussos, entre eles Maria Kolésnikova que no dia anterior resistiu a ser expulsa pela força de ordem de Belarus, estão sendo investigados por "violar a segurança nacional", anunciou Minsk nesta quarta-feira (9), exatamente um mês após o início dos protestos contra o presidente Alexander Lukashenko.
Maria Kolésnikova e Maxim Znak, membros do Conselho de Coordenação formado pela oposição para promover uma transição de poder e negociar a saída do presidente, enfrentam até cinco anos de prisão de acordo com esta acusação.
Os dois estão detidos em Minsk e são acusados de ter liderado "ações para desestabilizar a situação" em Belarus e de "violar a segurança nacional", anunciou em comunicado o Comitê de Investigação, encarregado dos principais casos de condenação.
O advogado Maxim Znak, de 39 anos, um dos últimos líderes do Conselho de Coordenação da oposição que permanecia em liberdade em Belarus, foi detido nesta quarta-feira por "homens de máscara", afirmou o serviço de imprensa do grupo de oposição em uma mensagem no aplicativo Telegram.
O conselho de coordenação também divulgou uma foto que mostra Znak conduzido por homens de máscara com trajes civis.
Após a detenção de Znak, a vencedora do Nobel de Literatura Svetlana Alexievich é a única dirigente do grupo ainda em liberdade em Belarus. Os outros estão detidos ou no exílio.
- "Lukashenko tem medo" -
A escritora, de 72 anos, denunciou à imprensa que homens não identificados estavam posicionados diante de sua residência e tocavam de forma constante o interfone.
Diplomatas de vários países, como Suécia e Lituânia, seguiram para a casa da escritora para expressar solidariedade.
Na terça-feira, a oposição informou sobre o "bizarro sequestro" da opositora Maria Kolésnikova pelas autoridades. Ela desapareceu na segunda-feira e escapou de um carro, no qual estava com outros dois opositores, e rasgou seu passaporte de propósito para impedir um exílio forçado para a Ucrânia.
"Maria está de bom humor, pronta para o combate, ela não nega os atos dos quais é acusada", disse sua advogada, Liudmila Kazak. Kolésnikova "confirma que rasgou seu passaporte de propósito para permanecer em Belarus", acrescentou.
Já Minsk afirma que, na verdade, seus colegas a jogaram do carro às forças de ordem.
A principal figura da oposição de Belarus, Svetlana Tikhanovskaya, que enfrentou Lukashenko nas eleições de 9 de agosto, denunciou o que chamou de "sequestros" de Kolésnikova e Znak e pediu sua "libertação imediata".
"Lukashenko tem medo das negociações e tenta (...) paralisar o trabalho do Conselho de Coordenação", disse Tikhanovskaya, que, após ameaças, partiu para o exílio na Lituânia.
"Não há alternativa às negociações e Lukashenko tem que aceitá-las", completou em um comunicado.
Nesta quarta-feira, ela se reuniu em Varsóvia com o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, antes de fazer um discurso perante a diáspora bielorrussa, no qual afirmou que Lukashenko "já não é legítimo aos olhos do povo".
Apesar da repressão das manifestações e das pressões contra os opositores de maior destaque, as ruas permanecem mobilizadas. A cada domingo, nas últimas quatro semanas, mais de 100.000 pessoas se reuniram em Minsk.
No nível diplomático, o Chipre bloqueou a adoção pela União Europeia de novas sanções contra o Belarus porque exige que medidas comparáveis às da Turquia sejam adoptadas devido à crise no Mediterrâneo Ocidental, informaram nesta quarta-feira fontes europeias.
Os chanceleres da comunidade autorizaram em agosto medidas para punir os responsáveis pela repressão da oposição em Belarus.
- Apelo aos russos -
Tikhanovskaya pediu aos russos que apoiem a "luta pela liberdade" dos bielorrussos e que não acreditem na "propaganda" que aponta os opositores como anti-Rússia.
"Em nenhuma etapa foi uma luta contra a Rússia e estou convencida de que não será", completou a opositora em um vídeo publicado no Telegram.
Em uma entrevista à imprensa russa na terça-feira, Lukashenko afirmou que "se Belarus cair, a próxima será a Rússia". Também acusou seus detratores de estarem liderados pelo Ocidente e de usarem Belarus como um trampolim para desestabilizar Moscou.
O presidente, no poder desde 1994, repetiu nesta quarta-feira que não sairá sob pressão, mas mencionou pela primeira vez possíveis eleições antecipadas.
Depois de acusar a Rússia durante a campanha eleitoral de querer afastá-lo do poder por sua recusa a aceitar as ambições de Moscou, Lukashenko deu um giro de 180 graus e passou a pedir o apoio russo ante os protestos.
* AFP