Organizações de direitos humanos denunciaram nesta segunda-feira(14) o alto número de histerectomias realizadas em um centro de detenção de migrantes na Geórgia, no sul dos Estados Unidos, e uma detenta descreveu o que aconteceu como "um experimento em um campo de concentração".
"Quando conheci todas aquelas mulheres que haviam se submetido a cirurgias, pensei que era como um experimento em um campo de concentração. Era como se estivessem testando nossos corpos", disse uma detida entrevistada pela organização Project South, segundo uma denúncia feita inicialmente ao governo pela situação sanitária local em meio à pandemia de covid-19.
A denúncia sobre extrações uterinas ou histerectomias surgiu depois que a enfermeira Dawn Wooten vazou informações sobre as práticas sanitárias na Prisão de Imigração de Irwin,administrada pela iniciativa privada.
As informações destacam uma "alarmante negligência médica" diante da pandemia de covid-19, que deixou 42 casos confirmados neste centro.
Nos Estados Unidos - país do mundo com mais casos do novo coronavírus - há 5.686 infectados em prisões de imigrantes que têm uma população de 20 mil detidos, segundo dados do Serviço de Imigração (ICE).
"Além disso, a denúncia lança um alerta sobre a taxa de remoções uterinas a que as mulheres migrantes estão sujeitas", afirma a denúncia.
Uma detida disse à organização Project South que em 2019 este centro enviou muitas mulheres para consultar um ginecologista particular fora do centro, mas que algumas desconfiaram deste médico. "Muitas mulheres aqui são submetidas à histerectomia", disse a mulher.
A enfermeira que vazou a informação confirmou sua preocupação com o alto índice de mulheres que se submeteram à histerectomia, afirmando que embora esse procedimento às vezes seja indicado, "não pode ser que os úteros de todas estejam com problemas".
Wooten afirmou ainda que o médico chegou a remover o ovário errado de uma detida que tinha um cisto, que então teve que se submeter a outra operação que a deixou sem ovários e, portanto, estéril.
"Ela disse que não estava totalmente sob o efeito da anestesia quando o ouviu falar para a enfermeira que havia se enganado", disse a profissional.
O relatório também denuncia a falta de tratamento a detentos com câncer por semanas, banheiros imundos para mais de 50 pessoas e alimentos sem condições para consumo, muitas vezes contaminados por insetos.
* AFP