"Vencemos o medo", disse Svetlana Tikhanovskaya depois de desafiar nas urnas o autoritário presidente de Belarus Alexander Lukashenko. Essa "mulher comum", que se tornou um fenômeno popular, agora reivindica uma vitória em eleições presidenciais roubadas, segundo ela, por seu adversário.
Esta mulher, que tem formação como professora de inglês, saiu do anonimato para desafiar o homem que governa a ex-república soviética com mão de ferro há 26 anos, sem permitir qualquer tipo de oposição.
Apesar da vitória esmagadora do presidente anunciada pelas autoridades, Svetlana está convencida: foi ela quem venceu.
Depois de parabenizar seus concidadãos por terem "vencido o medo, a apatia, a indiferença", ela agora exige que o regime "pense como cederá o poder".
Mesmo antes da votação, que foi seguida por confrontos entre a polícia e manifestantes e prisões em massa, Tikhanovskaya disse à AFP que esperava "fraudes descaradas",.
Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, nunca sonhou em governar o país de 9,5 milhões de habitantes. De fato, ela desistiu da carreira para cuidar do filho mais velho, que nasceu com problemas de audição.
Ela virou candidata porque seu marido Serguei Tikhanovski, um blogueiro conhecido, foi detido em maio depois de anunciar sua candidatura com a promessa de esmagar a "barata" Alexander Lukashenko.
Tikhanovskaya decidiu assumir seu posto "por amor" ao homem que conheceu há 16 anos, quando ela era estudante e ele proprietário de uma discoteca na cidade de Mozyr.
Ela conseguiu reunir as dezenas de milhares de assinaturas necessárias e a Comissão Eleitoral validou a candidatura, algo inesperado depois que dois opositores, considerados mais sérios, tiveram seus nomes vetados na disputa.
- 'Cansada de ter medo' -
Tikhanovskaya se apresenta como "uma mulher comum, uma mãe, uma esposa", que luta por dever, apesar das ameaças que a levaram a exilar a filha de 5 anos e o filho de 10 anos.
"Abandono minha vida tranquila por (Serguei), por todos nós. Estou cansada de ter que suportar tudo, cansada de ficar calada, cansada de ter medo. E vocês?", gritou em Minsk, diante dos aplausos de dezenas de milhares de pessoas em 30 de julho.
Seu marido, processado por vários crimes considerados fantasiosos por seus partidários, permanece detido. Ele é acusado até de tentativa de estimular distúrbios com mercenários russos. Outros opositores tiveram o mesmo destino com a aproximação das eleições.
Sobre seu programa, Svetlana Tikhanovskaya permaneceu vaga, mas prometeu a libertação dos presos políticos, um referendo constitucional e novas eleições livres.
A relação com a Rússia, um grande aliado de Belarus, mas cujas relações com Lukashenko se enfraqueceram, é um tema sobre o qual ela não deseja falar.
Para seus partidários, Sveta se transformou em musa. O site de notícias The Village passou a chamá-la de "Joana D'Arc acidental".
No início, ela se mostrava hesitante nas aparições públicas, mas ganhou confiança e impressionou os compatriotas com dois discursos autorizados para exibição na TV, nos quais denunciou as mentiras do regime bielorrusso.
- Punho, coração, vitória -
Seu estilo simples e direto agradou muitos bielorrussos, indo na direção oposta à atitude do marido nos vídeos em que denunciava a corrupção do regime de Lukashenko.
Svetlana Tikhanovskaya recebeu a ajuda de duas mulheres para reforçar sua imagem. Maria Kolesnikova, ex-diretora de campanha de um opositor detido, o ex-banqueiro Viktor Babaryko, e Veronika Tsepkalo, esposa de um crítico do regime que partiu recentemente para o exílio com os filhos em Moscou.
O trio representa um contraste refrescante com o estilo machista do presidente de 65 anos.
Cada uma adotou um gesto: Tikhanovskaya levanta o punho, Kolesnikova forma um coração com as mãos e Tsepkalo faz o V da vitória com os dedos. Três símbolos que viraram a imagem de uma campanha fora do comum.
Diante do trio, a multidão canta a música que virou um hino: "Vamos derrubar esta prisão! Nenhum muro deve ser construído aqui".
* AFP