A decepção dos muçulmanos era perceptível nesta terça-feira (23), depois que a Arábia Saudita anunciou que a grande peregrinação anual a Meca, um dos pilares do Islã, será limitada este ano a apenas mil pessoas e residentes do reino, em razão da pandemia de coronavírus.
"Minha esperança de ir (para Meca em julho) era enorme", comenta Kamariah Yahya, uma indonésia de 68 anos. "Estou me preparando há anos. Mas o que posso fazer? É a vontade de Alá, é o destino", consola-se.
Com a maior população muçulmana do mundo, a Indonésia tem o maior contingente de peregrinos do hajj, mas já havia renunciado à peregrinação no início de junho por causa dos riscos associados à pandemia.
Syam Resfiadi, presidente da União Indonésia de Organizadores do Hajj e da Umrah, a pequena peregrinação, observou que viajar é "muito arriscado" este ano.
Algumas empresas organizadoras "começaram a demitir seus funcionários, ou fecharam", por falta de rotatividade, disse à AFP.
A peregrinação a Meca é um dos cinco pilares do Islã, e uma jornada que todo muçulmano, se tiver os meios, deve fazer pelo menos uma vez na vida.
O evento, que todo o ano leva milhões de pessoas aos lugares sagrados do Islã, corria o risco, porém, de se tornar um grande foco de coronavírus durante a pandemia.
Para Shahadat Hosain Taslim, que chefia um grupo que representa as agências de viagem de Bangladesh para o Hajj, "essa decisão vai entristecer muitas pessoas".
Ainda assim, ele a considera necessária.
"A maioria dos peregrinos de Bangladesh são idosos, mais vulneráveis à COVID-19", disse ele.
Na Índia, o Ministério de Assuntos das Minorias informou que mais de 200.000 pessoas se inscreveram para participar do Hajj 2020 e garantiu que receberão um reembolso do dinheiro que haviam depositado.
A Arábia Saudita é o país do Golfo Árabe mais afetado pela COVID-19, com um aumento de infectados. As autoridades detectaram mais de 161.000 casos de contágio e 1.307 mortes.
A decisão de limitar a peregrinação aos fiéis presentes no reino ajudará a limitar os riscos à saúde. Alguns questionam, no entanto, o papel da Arábia Saudita como guardiã dos lugares mais sagrados do Islã.
A organização do Hajj por parte da Arábia Saudita tem sido amplamente criticada por acidentes fatais. Em 2015, uma debandada matou 2.300 fiéis.
Mohamad Azmi Abdul Hamid, membro do Conselho Consultivo para Organizações Islâmicas da Malásia, acredita que os países muçulmanos deveriam ter sido consultados para tomar uma "decisão coletiva", em vez de se submeterem à de Riade.
Ele disse à AFP que "é hora de [as cidades sagradas de Medina e Meca] serem administradas por um órgão internacional que represente todos os países muçulmanos".
Essa decisão provavelmente desagrada aos muçulmanos mais radicais, que colocam a religião antes das precauções sanitárias.
* AFP