Pela primeira vez na história, a reunião anual da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi aberta de maneira virtual nesta segunda-feira (18), com os países exigindo que a futura vacina contra o coronavírus seja um "bem público" e que a organização sanitária passe por reformas, a fim de torná-la mais responsiva a pandemias.
Ao abrir as discussões, o secretário-geral da ONU, Antonio Gurerres, criticou os países que "ignoraram as recomendações da OMS", considerando que o mundo paga "um preço alto" pelas estratégias divergentes.
— Como resultado, o vírus se espalhou por todo o mundo e agora está se dirigindo para os países do Sul, onde pode ter efeitos ainda mais devastadores. Espero que a busca por uma vacina possa ser o ponto de partida — acrescentou, pedindo um "grande esforço multilateral em face desta tragédia".
Neste sentindo, o presidente chinês Xi Jinping garantiu que uma eventual vacina chinesa se tornará um "bem público mundial", prometendo que seu país dedicará US$ 2 bilhões em dois anos à luta global contra a covid-19.
Em mensagem de vídeo, o presidente francês, Emmanuel Macron, também disse que, se uma vacina for descoberta, "será um bem público global, à qual todos deverão ter acesso".
Apesar da escalada de tensões entre Washington e Pequim, os países esperam adotar durante esta reunião uma longa resolução promovida pela União Europeia, que apela a um "acesso universal, rápido e equitativo a todos os produtos (...) necessários para a resposta à pandemia". O texto também pede o lançamento "o mais rápido possível (...) de um processo de avaliação" para examinar a resposta sanitária internacional e as medidas tomadas pela OMS diante da pandemia.
A esse respeito, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na reunião que lançaria uma investigação "o mais rápido possível, no momento apropriado, para revisar as experiências e lições aprendidas e fazer recomendações para melhorar a preparação e resposta nacional e global à pandemia".
A resolução também pede à OMS que "colabore estreitamente com a Organização Mundial de Saúde Animal, a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas e os países (...) com o objetivo de identificar a fonte zoonótica do vírus e determinar por que via foi introduzido na população humana, (...) em particular por meio de missões científicas e de colaboração de campo".
"Nenhum assunto evitado"
Se a resolução for adotada, "será um resultado importante porque a OMS será o primeiro fórum mundial a concordar unanimamente sobre um texto", disse uma fonte diplomática europeia.
— Nenhum assunto foi evitado na resolução, como a reforma da OMS e, em particular, de suas capacidades que se mostraram insuficientes para evitar uma crise dessa magnitude — garantiu a fonte.
Resta saber se os Estados Unidos apoiarão a resolução que não exige uma investigação imediata sobre a origem do vírus ou as ações tomadas pela OMS em resposta à pandemia. Washington acusa Pequim de ter ocultado a escala da epidemia e a OMS de ter falhado na gestão da pandemia se alinhando à posição chinesa. Por essas críticas, o governo de Donald Trump suspendeu a contribuição americana à OMS.
A questão da origem do vírus também atinge as relações China-Estados Unidos. Washington vem exigindo há várias semanas uma investigação sobre a origem do vírus, porque suspeita que Pequim ocultou um acidente de laboratório que estaria na origem da pandemia. Também acusa a China de tentar piratear uma pesquisa americana sobre uma vacina.
Ao mesmo tempo, o governo americano acredita que a OMS negligenciou um alerta precoce de Taiwan sobre a gravidade do coronavírus — o que a agência da ONU nega. E os Estados Unidos, apoiados por alguns países, pediram à OMS que "convide Taiwan" para o organismo, apesar da oposição da China.
Depois de ser observador, Taiwan foi excluído da OMS em 2016, ano em que Tsai Ing-wen chegou ao poder. A presidente se recusa a reconhecer o princípio da unidade da ilha e da China continental no mesmo país.
Em Genebra, a OMS assegura que cabe aos Estados-membros decidir se aceitam Taiwan. Pouco antes da abertura da reunião, o chefe da diplomacia taiwanesa, Joseph Wu, afirmou que havia concordado em adiar o debate para que as discussões do dia pudessem se concentrar na pandemia.