A batalha dos bispos na Itália para celebrar a missa em cerimônias públicas após quase dois meses de confinamento alimentou críticas contra o primeiro-ministro Giuseppe Conte. Ele anunciou novas medidas para impedir que a curva epidemiológica da covid-19 suba novamente, proibindo eventos religiosos.
A decisão do governo de autorizar a abertura de fábricas, lojas e museus em maio e manter a proibição de celebrar missas pelos riscos "inevitáveis" envolvidos em manifestações massivas provocou a ira da Igreja Católica.
"Os bispos italianos não podem aceitar que o exercício da liberdade de culto seja comprometido", protestou a Conferência Episcopal Italiana (CEI) em comunicado de imprensa que foi, acima de tudo, um grito de guerra.
Conte, um católico praticante e com relações privilegiadas com o Vaticano, tem contado com o apoio aberto do papa Francisco durante a crise. A CEI pressiona, por sua vez, uma aprovação de "pacote de propostas" pelo governo, com o objetivo de permitir a retomada da vida eclesiástica após 3 de maio. O pedido inclui também a celebração de missas, respeitando as medidas previstas, como a distância de segurança entre os fiéis, o uso de máscaras e nenhum contato entre as pessoas.
Diante da forte reação por parte da Igreja, Conte anunciou imediatamente que o Executivo estudará os protocolos de segurança propostos pelos bispos para voltar a celebrar missas. A opinião do grupo de especialistas e cientistas que o assessoram é contrária: eles compararam a missa a uma partida de futebol, devido ao nível de propagação do vírus.
Francisco pede prudência
Enfrentando o embate, que alimenta duras críticas a Conte, principalmente por parte da liga de extrema direita e xenófoba, Francisco enviou nesta terça-feira (28) um sinal de apaziguamento em sua tradicional missa matinal.
— Nestes tempos, quando começamos a ter disposições para sair da quarentena, pedimos ao Senhor que dê a seu povo, a todos nós, a graça da prudência e da obediência às disposições, para que a pandemia não volte — pediu o pontífice.
Desde que a epidemia começou em fevereiro, a Igreja italiana pagou um preço muito alto, com mais de cem padres e freiras que perderam a vida, cuidando dos doentes. Segundo Garelli, 22% dos fiéis na Itália vão à missa todos os domingos, mais do que na Alemanha ou na França.
Conte, que admitiu que teve de ser "rígido" por temer que o surto se espalhasse novamente, cometeu "um erro político" para alguns observadores. E seus rivais querem aproveitar este erro, devido à alta popularidade alcançada pela sua gestão da emergência.