Centenas de fábricas de roupas em Bangladesh desafiaram as medidas de isolamento em vigor em todo o país e reabriram neste domingo (26), gerando o temor de exposição ao contágio na indústria têxtil, cuja força de trabalho é composta majoritariamente por mulheres.
Marcas internacionais de renome cancelaram ou adiaram bilhões de dólares em encomendas devido à pandemia, afetando uma indústria que responde por quase toda a receita de exportação deste país do sul da Ásia.
As fábricas fecharam as portas no fim de março, mas alguns fornecedores disseram que agora estão sendo pressionados por varejistas a entregar encomendas de exportação excepcionais.
"Nós temos que aceitar o coronavírus como parte da vida. Se não reabrirmos as fábricas, haverá crise econômica", disse o vice-presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Artigos Têxteis, Mohammad Hatem.
Ele disse que sua empresa de têxteis, a MB Knit, reabriu parte de uma fábrica que produz roupas para a britânica Primark e vários outros varejistas.
As fábricas estavam "sob pressão" das marcas para atender os prazos de exportação e temiam o risco de que bilhões de dólares em encomendas fossem desviados para concorrentes em países como Vietnã ou China, acrescentou Hatem.
Mais de quatro milhões de pessoas trabalham em milhares de fábricas de vestuário em todo o Bangladesh, que no ano passado enviou US$ 35 bilhões em roupas para varejistas como H&M, Inditex e Walmart. O país é superado apenas pela China.
Centenas destas fábricas retomaram as operações durante o fim de semana nas áreas industriais de Gazipur e Ashulia, nos arredores da capital, Dacca.
Estima-se que cerca de 200 mil trabalhadores tenham voltado ao trabalho apenas em Ashulia, informou à AFP a porta-voz da Polícia, Jane Alam.
Mofazzal Hossain disse ter se sentido obrigado a retomar as atividades na fábrica em que trabalha, onde ele ganha US$ 115 por mês.
"O medo do coronavírus existe", disse à AFP.
"Mas eu agora estou preocupado em perder meu trabalho, salário e benefícios", acrescentou.
Líderes de direitos trabalhistas disseram temer que a volta ao trabalho possa levar a uma explosão de casos de COVID-19.
"Seu impacto poderia ser pior do que o do Rana Plaza", disse a ativista Kalpona Akter, em alusão ao colapso de um complexo da indústria têxtil em 2013, que matou 1.130 trabalhadores.
Bangladesh, um país com 168 milhões de habitantes, tem quase 5.500 contágios confirmados pelo novo coronavírus e 145 mortes, segundo o governo.
Especialistas afirmam que os números reais são muito maiores, devido à falta de testagem de pacientes pelas autoridades.
* AFP