LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Com voos cancelados devido à pandemia do novo coronavírus, um grupo de quase cem brasileiros faz fila do lado de fora do aeroporto de Lisboa sem ter previsão para embarcar.
Muitos afirmam que pretendem passar a noite no local, seja como forma de pressão sobre as companhias aéreas ou mesmo por falta de opção. Com a crise epidemiológica, várias cadeias de hotéis europeias estão fechando as portas por tempo indeterminado. Sites de aluguel por temporada também estão anulando reservas.
Os brasileiros foram atingidos por um efeito dominó de fechamentos de fronteiras no continente europeu, atualmente o epicentro da epidemia mundial da Covid-19.
Na última terça-feira (17), a União Europeia anunciou a suspensão de voos que tenham como origem ou destino países de fora do espaço comum.
Embora a medida, que tem validade de pelo menos 30 dias, só entre em vigor à 0h de quinta-feira (19), os 27 estados-membros já vinham adotando políticas unilaterais de fechamento de fronteiras.
É o caso, por exemplo, de Portugal, que fechou as fronteiras com a vizinha Espanha e cancelou todas as ligações aéreas entre os dois países após o número de casos do novo coronavírus dispararem em território espanhol.
Quem tinha voos para o Brasil com conexões por Madri ou Barcelona, por exemplo, acabou "preso" em Portugal por não ter como fazer a primeira etapa da jornada.
Apesar da medida coletiva de fechar as fronteiras da UE, cada país-membro tem autonomia para fazer algumas exceções. No caso português, os voos prosseguem (em número bastante reduzido) para países de língua oficial portuguesa e também para outros que têm comunidade lusitana expressiva: Estados Unidos, Canadá, Venezuela e África do Sul.
No caso de Portugal e Brasil, as ligações estão restritas às rotas para Rio de Janeiro e São Paulo.
Nesta quarta, muitos dos que se encontravam sem orientação no aeroporto de Lisboa eram justamente passageiros para outros destinos brasileiros, sobretudo Minas Gerais, Salvador e Fortaleza.
O estudante mineiro Márcio Lopes tinha passagem marcada pela TAP para Belo Horizonte nesta quarta (18), ainda antes da interrupção obrigatória da rota, mas teve o voo cancelado.
"A companhia aérea não nos coloca em outros voos, só nos manda entrar em contato com o consulado, que está fechado", diz ele.
"Aceitaria ir para o Rio, para São Paulo, para qualquer lugar do Brasil. Só quero voltar para lá", afirma.
O mesmo aconteceu com a empresária Edilene de Souza, que tinha um bilhete para Salvador, mas também disse que toparia viajar para qualquer cidade brasileira.
Cansada de esperar uma solução, a goiana Andressa Lima decidiu simplesmente comprar outra passagem, agora com destino a São Paulo.
"É muito descaso com o passageiro. Gastei mais de R$ 5.000. Ainda bem que eu tenho esse dinheiro, porque eu estou vendo gente aqui que não tem condições para mudar a data. Ficar aqui na Europa também está cada vez mais caro, com esse euro subindo do jeito que está", revela.
Ela também se queixa da falta de apoio consular para resolver a situação.
Em nota, o Itamaraty afirmou que acompanha com atenção a situação dos turistas brasileiros afetados em vários países.
"Recomenda-se a todos os cidadãos brasileiros no exterior que mantenham a serenidade e observem estritamente as medidas determinadas pelas autoridades locais, e que, se necessário, busquem contato direto com o consulado ou embaixada do Brasil responsável pela região onde se encontram", diz o texto.
Muitos dos turistas afirmam que não são atendidos pelos telefones do consulado e da embaixada da capital portuguesa. Nas redes sociais, circulam vídeos gravados por eles que mostram tentativas frustradas de contato com as autoridades consulares.
Falta de orientação Por meio de sua assessoria de imprensa, a TAP afirmou que as restrições aos voos foram impostas por autoridades europeias e são alheias à companhia.
Questionada sobre a razão de a empresa ter cancelado voos fora do eixo Rio-SP mesmo antes da proibição oficial, a companhia justificou que, se as aeronaves saíssem hoje de Portugal, não poderiam retornar.
A orientação oficial é que os clientes acessem o site oficial da empresa ou usem os call centers como forma de buscar informações e remarcar passagens.
Na fila do aeroporto, vários passageiros relatam que funcionários da TAP dizem que não há previsão para que eles sejam realocados e os orientam a "pressionar o consulado" por um voo de repatriação. A companhia diz que esse não é um posicionamento oficial da empresa.
Diante do desespero dos brasileiros que tentam voltar para casa, golpistas têm inundado as redes sociais com promessas de "passagens humanitárias" para repatriar turistas que não conseguem voltar para casa.
Em grupos de apoio no Facebook, famílias inteiras relatam terem sido enganadas pela promessa de voos de volta por R$ 1.500.