Ao menos nove pessoas morreram na quarta-feira à noite (19) em dois tiroteios em bares na cidade alemã de Hanau. O suposto autor dos crimes, considerados de possível motivação xenófoba, foi encontrado morto em um domicílio nesta quinta-feira (20), junto ao cadáver de sua mãe, de 72 anos. Com o acontecimento, o total de mortes no caso subiria para 11 mortos, em um balanço ainda provisório.
Identificado como Tobias R. por diversos meios de comunicação do país, o suspeito era um morador local de 43 anos, de nacionalidade alemã. Segundo a Procuradoria-Geral de Hesse, que assumiu o caso, há indícios de que o autor da chacina tivesse perfil ultradireitista. O ministro do Interior de Hesse, Peter Beuth, relatou pela manhã no parlamento regional que “os primeiros indícios apontam para uma motivação de ultradireita”.
A chanceler Angela Merkel condenou o racismo na Alemanha:
— O racismo é um veneno, o ódio é um veneno e esse veneno existe em nossa sociedade e é o culpado por muitos crimes.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que está "ao lado de todas as pessoas ameaçadas pelo ódio racista". Ele expressou horror ante a "violência terrorista em Hanau".
Fontes próximas à investigação revelaram que uma carta de confissão e um vídeo foram encontrados. O jornalista alemão Peter Neumann, especialista em terrorismo do King's College de Londres, afirmou que o texto encontrado é um "manifesto de 24 páginas" que expressa "ódio aos estrangeiros e aos não brancos".
"Faz um apelo ao extermínio de vários países do norte da África, Oriente Médio e Ásia central, usando termos explicitamente eugenistas, afirmando que a ciência demonstra que algumas raças são superiores", explicou Neumann no Twitter. O suposto autor alegava ter sido "vigiado toda sua vida pelos serviços secretos" e se descreve com um "celibatário involuntário", enquanto "confessa nunca ter mantido uma relação com uma mulher", continua Neumann.
A polícia confirmou as mortes de oito pessoas na quarta-feira e de uma nona vítima que não resistiu aos ferimentos nesta quinta-feira. A imprensa local cita vários feridos em estado grave.
Duas cenas de crime
Os investigadores encontraram o automóvel do suspeito, que estava com munições e carregadores. De acordo com a imprensa, ele tinha licença de caça e é alemão. O primeiro tiroteio aconteceu em um bar de narguilé, o Midnight, no centro de Hanau, cidade de 100 mil habitantes, que fica a 20 km de Frankfurt. Neste local, ele matou três pessoas.
Em seguida, o criminoso seguiu em seu automóvel até um segundo estabelecimento, o Arena Bar, no bairro de Kesselstadt, na periferia da cidade, onde abriu fogo contra pessoas que estavam na área de fumantes. Os tiros mataram cinco pessoas, incluindo uma mulher. Segundo o jornal Bild, todas as vítimas eram de origem curda.
— As vítimas são pessoas que conhecemos há muitos anos. É um choque para todos — afirmou o filho do gerente do bar. Dois funcionários estão entre as vítimas.
Os líderes das principais instituições da União Europeia (UE) lamentaram os ataques.
"Estou profundamente abalada com a tragédia", tuitou a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.
— Estamos unidos contra qualquer forma de ódio e violência — disse o presidente da Eurocâmara, David Sassoli.
O prefeito social-democrata de Hanau, Claus Kaminsky, relatou uma "noite terrível".
— É um autêntico cenário de horror — lamentou a deputada conservadora Katja Leikert.
Terrorismo de extrema direita
A ameaça de um terrorismo de extrema direita preocupa cada vez mais as autoridades da Alemanha, sobretudo, desde o assassinato de um deputado alemão favorável aos migrantes, que pertencia ao partido da chanceler Angela Merkel, em junho do ano passado.
Na sexta-feira (14), 12 integrantes de um pequeno grupo de extrema direita foram detidos no âmbito de uma investigação antiterrorista. As autoridades acreditam que eles planejavam ataques em grande escala contra mesquitas para imitar o autor do atentado de Christchurch, na Nova Zelândia, que em março de 2019 matou 51 pessoas em duas mesquitas e transmitiu os massacres ao vivo.
Em outubro, um extremista que nega o Holocausto tentou atacar uma sinagoga em Halle. Como não conseguiu entrar no edifício religioso em que os fiéis estavam entrincheirados, ele atirou em um pedestre e no cliente de um restaurante de kebab e transmitiu o atentado ao vivo on-line. Em Dresden, na ex-Alemanha Oriental, oito neonazistas estão sendo julgados há quase cinco meses por terem planejado ataques contra estrangeiros e políticos.
A associação Ditib, a principal organização da comunidade turca muçulmana na Alemanha, pediu mais proteção para seus fiéis que "não sentem mais segurança". Várias homenagens às vítimas serão organizadas nesta quinta em Hanau e em Berlim, diante do Portão de Brandemburgo.
Atualmente, o serviço de inteligência monitora 50 pessoas vinculadas ao movimento de extrema direita, consideradas um "perigo para a segurança do Estado".