O primeiro-ministro de Malta, o trabalhista Joseph Muscat, se despediu nesta sexta-feira (10) do poder, em meio a escândalos e a acusações de ter interferido e protegido seus colaboradores no caso do homicídio da jornalista anticorrupção Daphne Caruana Galizia.
Muscat deixa o cargo dias antes das eleições programadas por seu partido para escolher seu sucessor.
O Partido Trabalhista, de centro-esquerda, organizou uma despedida em um palácio esportivo do sul de La Valeta, durante o qual o primeiro-ministro pronunciou um discurso-chave para este pequeno país de meio milhão de habitantes, considerado um verdadeiro paraíso fiscal.
"Lamento o assassinato de Caruana Galizia, uma mãe assassinada pelo que acreditava e pelo que escreveu", disse Muscat em sua despedida.
"Isto também me machucou, e paguei um alto preço para que este caso fosse resolvido sob minha autoridade".
Muscat, de 45 anos, chegou ao poder em 2013 e foi reeleito em junho de 2017, em eleições antecipadas convocadas por acusações de corrupção contra seu entorno, após a publicação dos Panama Papers.
Mas a morte da jornalista, em outubro de 2017, vítima da explosão de um carro-bomba, acabou envolvendo altos funcionários do governo, entre eles o ex-chefe de gabinete de Muscat, o que obrigou o primeiro-ministro a anunciar em dezembro sua demissão em 12 de janeiro, forçado, ainda, por manifestações maciças e diárias.
O crime chocou Malta e causou indignação na Europa e suas autoridades, que condenaram a falta de vontade política para questionar a corrupção na ilha por lavagem de dinheiro em setores com o de jogos e bancário.
Muscat tem sido acusado pela família da jornalista, pela oposição e vários movimentos civis de ter interferido para proteger seu chefe de gabinete, Keith Schembri, amigo de infância e braço direito, que acabou também renunciando ao cargo.
A jornalista tinha denunciado Schembri, que a família da repórter considera o autor intelectual de sua morte, recebeu propinas milionárias por meio de empresas panamenhas, baseando-se na imensa investigação internacional.
Menos de uma hora antes de morrer, Daphne tinha escrito em seu blog, "Running Commentary", que "há delinquentes por todos os lados, a situação é desesperadora" nas altas esferas de Malta.
Graças ao apoio do seu partido e aos bons resultados econômicos (+ 6.6% de crescimento em 2018), Muscat conseguiu permanecer o último mês no cargo e organizar uma saída menos traumática.
Chegou, inclusive, a viajar a Roma para se reunir com o papa Francisco em 7 de dezembro, passou o Natal em Belém com escala em Dubai, acompanhado da família, e comemorou o fim do ano em Londres, onde, segundo veículos de comunicação malteses, consultou um famoso advogado.
* AFP