DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - As rodadas para apresentação do Brasil realizadas pela equipe econômica durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, receberam expressiva adesão de investidores estrangeiros neste ano. Mais de 50 executivos de empresas confirmaram presença nas apresentações para um balanço do primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.
O presidente do Bradesco, Octavio Lazari, que já realizou 12 dos mais de 25 encontros agendados pelo banco durante o evento na Suíça, nota uma retomada da confiança no país.
"O sentimento que a gente percebe dos investidores é de um pouco mais de confiança no Brasil. O que precisa é que as reformas andem rápido", disse.
O banqueiro André Esteves, sócio do BTG Pactual, que também foi a Davos, diz que, após 33 encontros ao longo de três dias, em paralelo ao Fórum, identificou uma melhora na imagem do Brasil entre estrangeiros.
"A sensação em Davos é que o Brasil voltou a estar na moda", disse Esteves.
Ele destacou, porém, que o país precisa ficar alerta ao ambiente, que dá tom às discussões em Davos. "Estamos gerindo a economia tão bem, não podemos derrapar nessa parte", afirmou.
A sala reservada no Fórum à apresentação do Brasil, dentro do chamado Country Strategy Dialogue, lotou.
Chamou a atenção que praticamente metade dos 60 participantes eram os presidentes de grandes empresas globais que precisam entender para onde o Brasil está indo antes de definir o tamanho da presença no país nos próximos anos.
Segundo relatos --o evento é fechado para a imprensa--, o ministro Paulo Guedes fez uma apresentação de 40 minutos com um balanço sobre o primeiro ano de governo, destacando, em especial, a conclusão da reforma da Previdência.
As perguntas indicaram que os investidores têm duas preocupações em relação ao Brasil: se governo e Congresso vão mesmo dar continuidade ao programa de reforma, concluindo neste ano especialmente as reformas tributária e administrativa, e se o Palácio do Planalto está atento a questões ambientais que, se não forem devidamente atendidas, podem gerar sansões externas --em especial de países europeus.
O governo tenta passar a mensagem de que sim, está atento à questão ambiental.
Guedes aproveitou parte do evento para afirmar aos presentes que o governo está atento à Amazônia, que vem tomando medidas para preservar a floresta e que ninguém quer que a região queime --assim como, nas palavras do ministro relatadas pelos presentes, ninguém quer que a Austrália queime.
A mesma mensagem ecoaria pouco depois em conversa do secretário especial Carlos da Costa (Produtividade, Emprego e Competitividade) com jornalistas estrangeiros: "O mundo precisa saber que o governo brasileiro se preocupa com a Amazônia", insistiu.
Autoridades de organismos multilaterais ouvidas pela reportagem também confirmaram que o momento é de retomada de confiança com o Brasil e que o ânimo da plateia estrangeira é melhor que no ano passado, quando Jair Bolsonaro estreou na reunião anual do Fórum Econômico Mundial. Para uma delas, há expectativa por mais reformas no país, mas o interesse externo volta a crescer.
Presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Luis Alberto Moreno saiu do encontro animado, conversando com Guedes. "A apresentação foi muito boa, e o Brasil parece estar no caminho."
Guedes se mostrou animado com o resultado das reuniões desta quarta (22) com Dara Khosrowshahi, presidente global da Uber, e Tim Cook, presidente da Apple.
"O presidente da Uber contou que está contratando engenheiros no Brasil", afirmou Guedes. "Tim Cook falou que, em 40 dias, vai fazer contato para marcar um encontro com a gente no Brasil. Está avaliando investir em P&D [pesquisa e desenvolvimento] no Brasil."
Na lista do evento do ministro da Economia com empresários está Hu Houkun, que comanda a chinesa Huawei, importante prestadora de serviços para empresas de telefonia no Brasil e grande interessada em ampliar presença local a partir da realização do leilão do 5G.
Guedes também vai se encontrar com Jai Shoff, presidente da UPS, que está entre possíveis candidatas a entrar na privatização dos Correios.
Destaque para empresas de energia, que estão entre as mais cotadas para participar de privatizações e ampliar investimentos com mais agilidade.
Estavam presentes Ignacio Galán, que comanda a espanhola Iberdola, dona da NeoEnergia no Brasil e que encerrou o ano de 2019 tomando um empréstimo de R$ 2,5 bilhões para investir no país; Francesco Starece, principal executivo da italiana Enel, que tem expandido parques de energia solar; e Jean-Pierre Clamadieu, presidente da francesa Engie, que tem dito em Davos que anunciará investimentos no Brasil neste ano.
Do setor de consumo, interessado em monitorar a expansão do mercado interno, estava Jean-François van Boxmeer, que preside a cervejaria Heineken.
Reservaram lugar também empresários como o fundador da montadora indiana Mahindra, Anand Mahindra, que tem uma operação pequena no Brasil, e o armador John Angelicoussi, dono do grupo de origem grega Angelicoussis, que teve um dos navios investigados no caso do vazamento de óleo na costa brasileira.