O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou nesta quinta-feira (9) que o Boeing 737 que caiu na véspera perto de Teerã foi derrubado por um míssil, provavelmente por engano.
O premier britânico, Boris Johnson, fez declarações no mesmo sentido.
A catástrofe, que matou 176 pessoas, a maioria iraniano-canadenses, ocorreu na quarta-feira pouco depois de Teerã disparar mísseis em bases militares usadas pelos militares dos EUA no Iraque.
"Temos informação de múltiplas fontes, incluídos nossos aliados e nossos serviços", que "indica que o avião foi derrubado por um míssil terra-ar iraniano. Pode ser que não tenha sido intencional", disse Trudeau em coletiva de imprensa.
Boris Johnson declarou que dispõe de informações de que o avião ucraniano foi "derrubado" por um míssil iraniano.
Menos explícito, o presidente americano, Donald Trump, tinha expressado antes nesta quinta suas "suspeitas" sobre as causas do ocorrido.
"Tenho minhas suspeitas", disse o mandatário, da Casa Branca. "Tenho a sensação de que algo terrível aconteceu", acrescentou.
Um vídeo, que o jornal The New York Times diz ter verificado, mostra um objeto luminoso se deslocando no céu até surgir um brilho, que se atenua e continua avançando. Segundos depois se escuta uma explosão.
- Investigação -
Em um comunicado sobre "certas colocações de cenários duvidosos", o ministério iraniano das Relações Exteriores pediu ao Canadá que "compartilhe" as informações com a comissão de investigação criada no Irã e convidou a Boeing, fabricante da aeronave, a "participar" do processo.
Teerã disse estar disposto a integrar na investigação especialistas de todos os países que perderam cidadãos na tragédia com o avião da Ukrainian International Airlines (UIA).
A National Transportation Safety Board (NTSB), agência encarregada da segurança dos transportes nos Estados Unidos, revelou participará da investigação sobre as causas da queda.
"A NTSB designou um representante acreditado para a investigação do acidente".
O voo PS752 da UIA decolou às 6h10 (23h40 de terça-feira no horário de Brasília) do aeroporto Imam Khomeiny, de Teerã, com destino ao aeroporto Boryspil, de Kiev.
Cerca de 50 especialistas ucranianos chegaram a Teerã nesta quinta-feira para participar da investigação e, em particular, decifrar as caixas-pretas do avião.
"Em um momento ou outro, eles entregarão as caixas-pretas, idealmente para a Boeing, mas se as entregarem na França ou em outro país, isso também seria bom", disse Trump.
Há certa confusão sobre o destino dessas caixas-pretas, crucial para as futuras investigações.
Na quarta-feira, a agência iraniana Mehr, próxima aos ultraconservadores, citou comentários de Ali Abedzadeh, presidente da Organização de Aviação Civil Iraniana (CAO), segundo o qual o Irã não entregaria caixas-pretas aos americanos.
Nesta quinta-feira, o Ministério dos Transportes iraniano rejeitou "rumores da resistência do Irã em entregar caixas-pretas (...) para os Estados Unidos".
Apenas alguns países, como Estados Unidos, Alemanha e França, têm capacidade técnica para analisar caixas pretas.
- Dia de luto na Ucrânia -
Esta tragédia é a mais letal para o Canadá desde a explosão, em 1985, de um Boeing 747 da Air India, no qual morreram 268 candenses.
Como anfitrião de uma grande diáspora iraniana, o Canadá rompeu relações diplomáticas com o Irã em 2012 e censurou a República Islâmica por seu apoio ao governo de Bashar Al-Assad na Síria.
É também o pior acidente de uma aeronave civil no Irã.
Kiev contempla várias hipóteses sobre o que causou o acidente, incluindo um míssil antiaéreo, a explosão de uma bomba colocada a bordo ou uma colisão com um drone.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, declarou esta quinta-feira como dia de luto nacional, prometendo chegar à verdade do caso.
A Ucrânia também pediu "apoio incondicional" da ONU para seus especialistas concluírem a investigação.
Um relatório preliminar da agência de aviação civil iraniana, a CAO, apontou que "o piloto não transmitiu nenhuma mensagem de rádio sobre circunstâncias incomuns" e citou testemunhas presenciais que observaram um incêndio.
Após o início do fogo, de origem desconhecida, "o avião que se dirigia, a princípio, para o oeste para sair da zona do aeroporto virou à direita, devido a um problema, e estava voltando para o aeroporto quando caiu" perto de Chahriar, a cerca de 20 km da região metropolitana de Teerã, segundo a CAO.
A Boeing, afetada pelo escândalo dos seus 737 MAX, impedidos de voar desde que há 10 meses dois acidentes levaram à morte de 346 pessoas, se declarou "disposta a ajudar com todos os meios necessários".
* AFP