Pela primeira vez unânimes, todos os sindicatos protestaram nesta terça-feira na França contra a reforma da Previdência, na tentativa de fazer o governo ceder, no 13º dia de uma greve que ainda paralisa amplamente as grandes cidades.
Os opositores ao novo sistema universal de aposentadoria, projeto emblemático do presidente reformista Emmanuel Macron, pretendem realizar uma nova demonstração de força para pressionar um governo enfraquecido pela renúncia do arquiteto do projeto, suspeito de conflitos de interesse.
Este foi o terceiro dia de manifestação desde o início do mês. Segundo o Ministério do Interior, havia 600.000 manifestantes, enquanto os sindicatos contabilizaram 1,8 milhão de pessoas.
Em 5 de dezembro, mais de 800.000 pessoas saíram às ruas na França. No dia 11, os manifestantes somaram 339.000.
Mas, nesta terça-feira e pela primeira vez, todos os sindicatos foram mobilizados, até mesmo o CFDT, com o qual Macron poderia contar para adotar sua reforma.
Em Paris, ocorreram confrontos por volta das 18H00 (14H00 Brasília), quando policiais reagiram ao lançamento de objetos contundentes com bombas de gás lacrimogêneo.
Segundo fontes oficiais, às 21H00 local havia 30 detidos em decorrência dos incidentes.
Além dos protestos, a greve continua, principalmente no metrô de Paris e nas ferrovias.
Os sindicatos na origem da mobilização contra a reforma deram um "ultimato" ao governo, após uma reunião realizada na noite desta terça-feira, e advertiram para "consequências" e novas ações, com a manutenção da pressão até o Natal.
Metade das linhas de metrô estavam completamente fechadas, causando centenas de quilômetros de congestionamentos em Paris e seus arredores.
"Estou tentando ir para Lyon e ainda não sei se vou chegar lá. Eu realmente compartilho os ideais sociais dos grevistas (...) mas está sendo difícil para as pessoas", declarou Asdine à AFP, na estação de trem de Lille (norte).
E a situação não deve melhorar com a aproximação das festas de final do ano. "Os franceses permanecerão na plataforma da estação para as festas de Natal?", questionou o jornal Le Figaro.
O governo pede "responsabilidade" aos sindicatos, mas os opositores à reforma culpam a intransigência, segundo eles, do Executivo.
De acordo com uma pesquisa da Harris Interactive para RTL e AEF Info, 62% dos franceses apoiam o movimento de greve, embora 69% desejem uma "trégua de Natal".
- "Delevoye se aposenta" -
Em meio aos protestos, o presidente francês designou Laurent Pietraszewski como novo secretário para administrar a reforma, no lugar de Jean-Paul Delevoye.
O jornal Libération destaca a saída do arquiteto da reforma, forçado a renunciar por não ter declarado, conforme exigido por lei, uma dúzia de funções que exerceu em paralelo ao seu cargo no governo.
"Delevoye se aposenta. O Executivo soma poucos pontos", escreveu o Libération em um jogo de palavras com o sistema de aposentadoria por pontos desejado pelo governo para unir os 42 regimes existentes atualmente, incluindo os especiais que permitem a aposentadoria mais cedo dos condutores de trem.
Mas foi o acréscimo a esta reforma de uma "idade do equilíbrio" (64 anos em 2027) que levou os sindicatos a se unirem nas ruas: esta idade visa manter o equilíbrio financeiro do sistema, uma vez que todos poderão continuar a se aposentar aos 62 anos, mas sem o valor integral, que só seria pago para quem esperar até os 64.
É um incentivo "forte" para se aposentar aos 64 anos, de acordo com o primeiro-ministro Édouard Philippe.
Aos sindicatos que solicitam a retirada completa da reforma (CGT, FO, Solidaires...) juntaram-se nas ruas o CFDT, o maior sindicato da França, o CFTC e o Unsa.
"Mudar todas as regras é bastante instigante para não adicionar medidas financeiras a partir de 2022", argumentou o líder do CFDT, Laurent Berger.
"Espero que o governo entenda que precisamos apertar o botão de parada", ressaltou Yves Veyrier, número um do FO.
"Não vamos retirar a reforma", já alertou a porta-voz do governo, Sibeth Ndiaye, enquanto Edouard Philippe receberá as organizações sindicais e patronais na quarta e quinta-feira.
O tempo está acabando. "É hora de pôr um fim aos bloqueios", implorou a Medef, a organização patronal, em uma carta aos seus membros, temendo "um fim de ano no vermelho".
* AFP