O arquipélago de Samoa estava completamente paralisado nesta sexta-feira, pelo segundo dia consecutivo, para uma campanha sem precedentes de vacinação de 48 horas para tentar conter uma epidemia de sarampo que já matou 63 pessoas, a maioria crianças.
As autoridades destas ilhas do sul do Pacífico de 200.000 habitantes advertiram que não tolerariam qualquer tipo de desinformação por parte do movimento antivacina.
A polícia anunciou a detenção do ativista Edwin Tamasese, que criticou a campanha nas redes sociais: "Aproveitem sua orgia de assassinatos", escreveu.
O representante regional do Unicef no Pacífico, Sheldon Yett, pediu responsabilidade às redes sociais, para que adotem medidas contra a proliferação de mensagens contrárias às vacinas.
Samoa ordenou o fechamento de todos os estabelecimentos comerciais e dos serviços governamentais não essenciais na quinta-feira e sexta-feira, cortou as conexões de balsa entre as ilhas e pediu aos veículos privados que não circulem pelas ruas.
Equipes de vacinação devem comparecer casa por casa. As pessoas que não estão vacinadas contra o sarampo devem exibir um símbolo vermelho na frente de sua residência para ajudar a identificação.
O número de mortes por sarampo desde meados de outubro chegou a 63 nesta sexta-feira, incluindo 55 crianças de quatro anos ou menos.
Os menores de idade também são maioria entre os 4.357 casos de contaminação registrados. Vinte deles estão em hospitalizados em condição crítica.
No total, 142.000 pessoas morreram no mundo vítimas de sarampo em 2018. O número é quatro vezes menor que o registrado em 2000, mas 15% superior a 2017.
Antes do início da epidemia, a taxa de vacinação era de 30% da população. Com uma campanha iniciada há 15 dias entre as crianças, a taxa subiu para 55%.
A intensificação e a extensão a toda a população da campanha na quinta-feira e sexta-feira, consequência do estado de emergência decretado no mês passado, deve elevar o índice a mais de 90%, informou Yett.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) responsabiliza o movimento antivacina pela queda na cobertura da vacinação em Samoa antes da epidemia.
As campanhas geralmente começam em países ricos como Estados Unidos ou Austrália, sem que as pessoas tenham consciência de seu impacto nos países pobres.
"É devastador, isto pode condenar à morte uma criança aqui, onde o índice de vacinação é baixo e onde existem outros problemas de saúde", destacou Yett.
A morte no ano passado de dois bebês depois que receberam uma vacina contra o sarampo quebrou a confiança dos pais e paralisou durante oito meses o programa nacional de vacinação.
Uma investigação mostrou que a vacina não provocou as mortes.
Samoa recebeu ajuda da ONU e de vários países, mas são necessários entre 10 e 14 dias para que a vacina tenha efeito.
De acordo com a OMS, a vacinação salvou a vida de 21 milhões de crianças nos últimos 20 anos.
* AFP