Uma multidão de manifestantes marchou, cantou e fez panelaços neste domingo (8) em mais uma demonstração do descontentamento popular com o governo de Iván Duque desde 21 de novembro.
O centro e o norte de Bogotá viraram um autêntico cenário de protestos. Uma multidão formada principalmente por jovens voltou às ruas para desmentir os indícios de cansaço e exigir mudanças ao mandatário, desta vez com o apoio de artistas locais.
"As ruas não se calam", dizia uma frase escrita com giz no asfalto. Desde cedo, as pessoas aderiram à iniciativa "un canto x Colombia" (Um canto pela Colômbia), show itinerante que contou com três palanques, instalados ao longo de sete quilômetros da ciclovia dominical.
Acompanhados de perto pela Polícia, os manifestantes marcharam e repetiram as críticas às políticas oficiais e à tentativa do governo de acalmar as ruas com diálogos que, após três semanas, não resultaram em nenhum acordo.
Em alguns pontos, ouviram-se gritos de "Fora Duque!", embora à tarde o protesto tenha ocorrido sem incidentes.
— O governo tem sido indiferente, não quer nos escutar, não quer se sentar para falar, quer impor — criticou Alejandra Obregón, uma universitária de 27 anos que representa o setor que exige mais acesso à educação pública.
Segue o diálogo
Com 15 meses no poder e a opinião pública contra (sete em cada 10 colombianos desaprovam seu governo), Duque não consegue conter os protestos. Em meio a conversas com diferentes frentes sociais, anunciou incentivos a empresas que contratarem jovens, três dias em IVA (19%) ao ano e o repasse deste imposto aos mais pobres.
Mas a mobilização não cede e seus efeitos já são sentidos no comércio na época do ano de maiores vendas. Segundo o governo, os prejuízos beiram os 285 milhões de dólares.
Os sindicatos convocaram novos protestos até que governo e Congresso desistam, pelo menos, de uma reforma tributária que, segundo os críticos, atinge a classe média e corta impostos de empresas mais ricas.
Do lado dos manifestantes, o desafio é manter ativas as ruas em plena temporada natalina.
— Não estamos acostumados na Colômbia a um protesto de mais de uma semana — disse Cristian Forero, estudante de mestrado de 23 anos. Mas confiou em que a marcha deste domingo mantenha viva as manifestações.
O cenário de protestos
A Colômbia se soma aos movimentos regionais de descontentamento popular, que começaram no Equador, passando pelo Chile - onde os protestos ainda permanecem - e seguiram para a Bolívia, sem um denominador comum, exceto a ativa participação dos mais jovens. Embora tenham sido pacíficos na maioria, os protestos no país deixaram quatro mortos, 500 feridos entre manifestantes e forças de ordem e 204 capturados.
A tropa de choque despertou a ira com a repressão inicial e a morte de um jovem de 18 anos nas mãos de um militar que atirou com sua escopeta calibre 12, segundo as investigações em curso. A Fundação para a Liberdade de Imprensa também denunciou a prisão temporária de 19 jornalistas.
Na Colômbia, um dos países mais desiguais do continente, onde os jovens são afetados mais duramente pelo desemprego que atinge 10% da população, as pessoas clamam contra a corrupção, a violência financiada pelo narcotráfico e para que se cumpra o pactuado com os rebeldes e se detenha o assassinato seletivos de indígenas, líderes sociais e ex-guerrilheiros.
— Há muitas coisas pelas quais protestar (...) Acho que demoramos muito a pular, a reagir. Outros países já o fizeram e com muito mais força. Este é o nosso despertar — afirmou o professor Andrés Reyes, de 33 anos.