SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A França segue parcialmente paralisada pelo quarto dia consecutivo, enquanto os sindicatos mantêm a greve devido à reforma da Previdência proposta pelo governo de Emmanuel Macron.
Neste domingo (8), o sistema nacional de trens (SNCF) e o metrô de Paris (RATP) não estavam funcionando. Apresentações na instituição cultural Comédia Francesa e na Ópera de Paris deste fim de semana foram canceladas, e salas do Louvre ficaram fechadas.
O objetivo, segundo o secretário-geral do sindicato CGT, Philippe Martinez, é manter a paralisação até a retirada completa da proposta. "Não quero que nossos netos nos digam: você pode se aposentar com tal idade, mas eu, em troca, sacrifiquei a minha aposentadoria", disse ao semanário francês Le Journal du Dimanche.
Desde quinta-feira (5), quando foram registrados protestos e greve em cerca de cem cidades, os franceses enfrentam paralisações parciais de serviços. No primeiro dia, segundo o governo, ao menos 800 mil pessoas foram às ruas. Os sindicatos falam em 1,5 milhão de manifestantes.
Para tentar resolver a crise, o presidente do país irá se reunir com vários de seus ministros na tarde deste domingo. O premiê, Edouard Philippe, não deu sinais de recuo, no entanto, em entrevista também publicada pelo Journal du Dimanche.
"Estou determinado a levar essa reforma previdenciária até o fim e [...] vou responder às preocupações da população", afirmou. "Se não fizermos hoje uma reforma profunda, séria, progressiva, outro [governo] fará uma no futuro, mas realmente brutal."
Já a vice-ministra do Ambiente, Emmanuel Wargon, disse à RFI que o governo seria flexível. "Os tempos de transição podem ser flexibilizados se necessário e podemos diferenciar como cada sistema de aposentadoria especial converge com o novo sistema em diferentes prazos e termos."
A situação no país, porém, pode se agravar esta semana. Os sindicatos dos ferroviários decidiram ampliar a paralisação da SNCF a partir desta segunda-feira (9).
Há ainda o temor de uma "segunda-feira negra", pois a companhia nacional de trens alertou os usuários que o trânsito nas estações será "muito perigoso" para a segurança dos viajantes, levando em consideração o escasso serviço estabelecido antes da greve.
Nesta segunda, o governo fará uma reunião com os sindicatos para negociar a reforma. Na quarta (11), o premiê francês irá detalhar o projeto da reforma, ainda não inteiramente apresentado pelo governo. Segundo disse ao Journal du Dimanche, a mudança, que funde os 42 regimes especiais existentes, colocará fim às "injustiças do sistema atual".
De acordo com Philippe, o governo poderia propor uma transição de 10 a 15 anos dos regimes atuais para o futuro sistema. Martinez, no entanto, já afirmou que isso não será suficiente para por fim à greve.
Alguns franceses já temem que a paralisação dure até o Natal, o que seria uma das piores crises do mandato de Macron, eleito presidente em maio de 2017. O presidente francês enfrenta desde novembro de 2018 as seguidas manifestações do movimento dos coletes amarelos.
ENTENDA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA FRANÇA
Um fundo para todos
Os 42 fundos de pensão administrados de forma independente serão fundidos em um único, com regras iguais para todos. Atualmente, se uma pessoa contribui para mais de um fundo, ela recebe mais de uma pensão. Sob a proposta, isso não será possível.
Fim de regimes especiais
O projeto acaba com regimes especiais de ferroviários, militares e bailarinos da Ópera de Paris, por exemplo. Esses funcionários públicos conseguem se aposentar antes do 60 anos e recebem pensões maiores.
Sistema de pontuação
A ideia é adotar um sistema de pontuação no qual cada 10 euros contribuídos equivalem a 1 ponto. Serão concedidos pontos bônus em casos excepcionais, como licença maternidade.
Pela nova proposta, quanto mais anos um trabalhador ficar no mercado, mais pontos ele acumula, e maior será sua pensão. Quem trabalhar até os 64 anos, independentemente dos pontos obtidos, terá pensão mínima de mil euros.
Quem trabalhar além dessa idade pontua mais: aos 65, ganhará 5% a mais de pontos por ano; aos 66, mais 10%, e assim por diante.
66% dos franceses se aposentam com a idade mínima de 62 anos
18% da força de trabalho se aposenta pelo regime especial, que tem pensões um pouco maiores que a média
Fonte Conselho de Orientação para Pensões