Os eleitores da Guiné Bissau votam neste domingo para eleger seu novo presidente, com a esperança de acabar com um bloqueio que há anos enreda uma classe política corrupta e incapaz de responder às necessidades de uma das populações mais pobres do mundo.
"Acabei de votar, um gesto muito importante para mim e para todo o país, porque esperamos que encerre permanentemente a página sombria da instabilidade", afirmou Victor Nafassa, presidente de uma assembleia de voto em Luanda, bairro da capital Bissau.
A votação termina às 17h00 (14h00 de Brasília). As primeiras tendências são esperadas no início da semana.
Provavelmente será necessário um segundo turno para definir o presidente, que ocorrerá em 29 de dezembro.
Embora a estabilidade política continue sendo uma questão crucial no país, muitos habitantes expressaram acima de tudo sua preocupação com as condições de vida, trabalho, saúde e educação.
Trata-se de um país com 1,8 milhão de pessoas que precisa de reformas para tentar resolver males como a pobreza extrema, a corrupção generalizada e o crescimento alarmante do narcotráfico.
Mais de um terço da população do país vive com menos de um dólar por dia.
"Ganho 30.000 francos (US$ 50) por dia. Gasto 13.500 francos para o combustível e 13.000 francos para pagar o táxi que eu dirijo. Só me resta 3.500 francos. É difícil", lamenta Thierno Malang Gomis, motorista de táxi de 35 anos.
"Se não fosse o período da colheita do caju, seria realmente difícil", insiste, lembrando a dependência de seus compatriotas de uma produção que constitui a principal fonte de recursos para dois terços deles.
Desde sua independência em 1974, o país conheceu poucos momentos de estabilidade.
Quatro golpes, uma série de tentativas e várias quedas de governo abalaram sua história recente.
Os favoritos da eleição são figuras já conhecidas, protagonistas das crises dos últimos anos, começando com o atual presidente, José Mario Vaz, e seu primeiro-ministro em 2014-2015, Domingos Simões Pereira, chefe do histórico Partido Africano pela Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), formação majoritária no Parlamento.
Há também Umaro Sissoco Embalo, líder de um partido dissidente do PAIGC, e Nuno Nabiam, que perdeu no segundo turno em 2014.
Vaz, que venceu naquele ano com o PAIGC, demitiu Pereira em 2015 de seu cargo de primeiro-ministro, o que desencadeou uma paralisia política que ainda persiste no país.
Excluído do PAIGC, Vaz é apresentado como independente.
Ele é o primeiro chefe de Estado em 25 anos que terminou seu mandato, já que os demais foram mortos ou derrubados.
As elites do país monopolizaram o poder e a riqueza de Guiné Bissau, segundo os especialistas.
O tráfico bem-sucedido de cocaína da América do Sul é para alguns uma fonte de renda como qualquer outra, explicam.
Um relatório do Instituto de Estudos de Segurança aponta que os perdedores das eleições presidenciais não apenas jogam seu futuro político, mas "eles também correm o risco de serem processados pelos crimes econômicos que supostamente cometeram".
* AFP