Autoridades internacionais anunciaram nesta quarta-feira (16) o desmantelamento de uma das maiores redes de comercialização na internet de vídeos de pedofilia, o que levou à prisão de 337 suspeitos em 38 países, incluindo o Brasil.
As detenções ocorreram após a decodificação de uma página na "dark web" - uma parte da internet fortemente codificada e quase impossível de regulamentar - que "se monetizava com o abuso sexual de crianças", de acordo com a agência britânica de combate ao crime organizado (NCA).
"A página, que era baseada na Coreia do Sul, continha mais de 250 mil vídeos repugnantes. Os usuários fizeram mais de um milhão de downloads", que eram pagos com a criptomoeda bitcoin, destacou a NCA.
Autoridades dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Coreia do Sul e outros países informaram que salvaram pelo menos 23 menores vítimas de exploração sexual que eram exibidos em vídeos gravados pelos abusadores. Esse material era comercializado no site "Welcome to Video" na "dark web", agora fechado.
A venda dos vídeos mediante o pagamento em bitcoins era uma forma de dificultar a identificação do comprador.
De junho de 2015, quando "Welcome to Video" foi lançado, até março de 2018, o site recebeu pelo menos 420 bitcoins - cerca de 370 mil dólares no momento dos pagamentos - em pelo menos 7.300 transações, de acordo com o Departamento de Justiça de Estados Unidos.
O servidor foi confiscado pela polícia americana, britânica e sul-coreana em 5 de março de 2018 e o administrador do site, Son Jong Woo, de 23 anos, capturado e preso na Coreia do Sul, além de ter sido denunciado nos Estados Unidos.
Desde então, centenas de usuários de 12 países foram localizados e detidos.
As autoridades americanas anunciaram a apreensão de contas em moeda virtual de 24 pessoas em cinco países, que eram "utilizadas para financiar o site e promover a exploração das crianças".
- Descoberta de pedófilo britânico abriu o caso -
A colaboração entre as agências de segurança de diferentes países começou a partir de uma investigação britânica contra o geofísico Matthew Falder, que cumpre pena de 25 anos de prisão depois de reconhecer, em 2017, o total de 137 infrações, incluindo o incitamento a estupro de crianças e compartilhamento de imagens de abuso sexual de recém-nascido, segundo a NCA.
"O site monetizou com o abuso sexual de crianças e foi um dos primeiros a oferecer vídeos asquerosos para venda usando a criptomoeda bitcoin, segundo a agência britânica.
Desde a prisão do primeiro suspeito, em 2017, no Reino Unido, sete homens já foram condenados, incluindo um a 22 anos de prisão por estupro de um menino de cinco anos, bem como o ataque sexual contra uma menina de três anos que aparecia no site Welcome to Video, acrescentou a NCA.
- Rastreamento de contas em bitcoin -
Em Washington, o departamento de Justiça disse que o site gerenciava "o maior mercado de exploração sexual infantil pelo volume de conteúdo" quando foi removido.
As autoridades americanas investigaram 92 pessoas no caso, e muitos dos detidos foram acusados e condenados.
"Esta foi uma das primeiras vezes em que a polícia detectou o uso de criptomoeda no tráfego de pornografia infantil", disse a promotora norte-americana Jessie Liu.
Don Fort, da receita federal dos EUA (IRS), disse que foi provado que os criminosos podem ser rastreados na "dark web" e não podem esconder suas identidades atrás de contas em criptomoedas.
"Foram à dark web pensando que suas ações eram anônimas, mas não eram, e nós os encontramos", declarou numa entrevista coletiva em Washington. "Nossos agentes mostraram mais uma vez que não há onde se esconder".
Participaram desta investigação global agências de 38 países, entre eles Reino Unido, Irlanda, Estados Unidos, Coreia do Sul, Alemanha, Espanha, Brasil e Arábia Saudita.
* AFP