O relatório dos especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU sobre o lamentável estado de saúde dos oceanos e das zonas glaciais foi adotado nesta terça-feira (24), após uma noite de debates contidos pelas objeções sauditas.
O conteúdo do relatório será divulgado amanhã, quarta-feira, às 9h GMT (6h em Brasília).
O informe é bastante esperado como mais uma prova da urgência de se lutar contra o aquecimento global, no momento em que líderes mundiais são acusados de inação por cidadãos e jovens do mundo todo, cada vez mais mobilizados pela temática ambiental.
Este relatório especial sobre os oceanos e a criosfera (calotas glaciares, gelo, geleiras, permafrost) vai encerrar uma sequência climática marcada por manifestações de milhões de jovens no fim de semana passado e uma cúpula na ONU, na segunda-feira, onde as palavras da militante sueca Greta Thunberg na tribuna não provocaram o impulso desejado pelos defensores do clima.
Ao fim de cinco dias de discussões em Mônaco, a portas fechadas, entre cientistas e diplomatas dos 195 Estados-membros do IPCC, a síntese deste relatório de 900 páginas foi adotada formalmente na terça.
"Um momento muito agradável (...) após dois anos de trabalho e de uma última sessão de 27 horas", comentou no Twitter um de seus autores, Jean-Pierre Gattuso.
Iniciadas na sexta-feira passada, as discussões que deveriam terminar na noite de ontem, estenderam-se até o fim da manhã de hoje.
De acordo com vários participantes que pediram para não serem identificados, a culpa foi da Arábia Saudita, primeiro exportador mundial de petróleo.
Os sauditas queriam descartar as referências ao relatório especial do IPCC de outubro de 2018, que mostrava as grandes diferenças de impacto entre um mundo com +1,5°C e com +2°C.
Este alerta dos cientistas explicava que seria necessário reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em quase 50% até 2030 para permanecer no limite de +1,5°C, objetivo ideal do Acordo de Paris sobre o Clima.
Apesar de sua adoção por consenso, alguns países - com a Arábia Saudita à frente - não aceitam suas conclusões.
"Diria que eles vieram para esta reunião apenas para impedir qualquer referência em relação a 1,5°C, ou à redução das emissões de CO2", declarou um participante, denunciando uma vontade "desprezível" de se desacreditar a Ciência.
Finalmente, as delegações aceitaram retirar a referência mais forte a respeito do 1,5°C, segundo uma fonte ligada às negociações.
Durante a reunião do clima da ONU (COP24), na cidade polonesa de Katovice, no fim de 2018, Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia já tinham recusado a menção "acolhe favoravelmente" este relatório de +1,5°C na decisão final. Desde então, a cada oportunidade, os sauditas rejeitam as referências a este texto.
* AFP