O ex-presidente francês Jacques Chirac, que marcou a vida política francesa por várias décadas, faleceu na manhã desta quinta-feira (26) aos 86 anos de idade.
"O presidente Jacques Chirac faleceu esta manhã, ao lado de seus entes queridos e em paz", anunciou à AFP seu genro Frederic Salat-Baroux.
Em homenagem ao ex-presidente, a próxima segunda-feira será um dia de luto nacional na França e uma missa solene será celebrada na igreja parisiense do São Sulpício, anunciou o Palácio do Eliseu.
Chirac foi um "grande francês, livre", um "homem de Estado que amávamos tanto quanto ele nos amava", disse o presidente Emmanuel Macron em um discurso transmitido pela televisão.
O ex-presidente gaullista foi "o símbolo de uma França independente e orgulhosa, capaz de rejeitar uma intervenção militar injustificada", acrescentou, em alusão à condenação da invasão do Iraque, em 2003, sem uma decisão das Nações Unidas.
Acompanhado de sua esposa, Brigitte, Macron foi à residência de Chirac em Paris para prestar suas homenagens aos restos mortais do ex-presidente.
Centenas de pessoas foram à noite ao Palácio do Eliseu assinar o livro de condolências, que estará disponível até o domingo.
Chirac foi presidente entre 1995 e 2007 e posteriormente, prefeito de Paris e primeiro-ministro. Foi um pilar da direita francesa graças aos 12 anos no poder, aos êxitos políticos e seus sonoros fracassos, aos quais sobreviveu em função de sua habilidade política.
Dentro de fora da França, Chirac será lembrado também pelo reconhecimento da responsabilidade francesa nos crimes nazistas e pelas advertências sobre as mudanças climáticas.
Também foi o primeiro presidente da V República francesa condenado em um escândalo de postos de trabalho fantasmas quando foi prefeito da capital.
A Assembleia Nacional e o Senado observaram um minuto de silêncio em sua homenagem e toda a classe política francesa, da extrema esquerda à extrema direita, dirigiu a ele palavras de reconhecimento.
O ex-presidente socialista François Hollande saudou "um combatente", que "soube estabelecer um vínculo pessoal com os franceses".
"É uma parte da minha vida que desaparece hoje", disse o também ex-presidente Nicolas Sarkozy, que foi ministro de Chirac e manteve relações turbulentas com ele.
A Torre Eiffel, símbolo da cidade que Chirac governou por 18 anos (1977-1995) desligou as luzes em sinal de luto.
Líderes do mundo inteiro também manifestaram seu pesar. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, se disse "devastado" pela morte de um "grande amigo", a quem qualificou de "grande estadista". Segundo ele, "seu legado para a França e para a União Europeia permanecerá para sempre".
A chanceler alemã Angela Merkel elogiou um "formidável parceiro e amigo", enquanto o presidente russo Vladimir Putin se referiu a um líder "sábio e visionário".
"O presidente Chirac foi um amigo meu e amigo do Brasil. Estadistas com sua visão, capazes de dialogar com líderes de pensamentos diferentes (...) fazem muita falta", reagiu em um comunicado o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
Chirac foi "um grande amigo do Marrocos", disse o rei Mohamed VI.
O primeiro-ministro libanês Saad Hariri, amigo próximo de Chirac, o chamou de um "dos maiores homens da França".
Sua família informou que os "franceses que desejarem prestar homenagem a Jacques Chirac vão poder, nos próximos dias, em um local que ainda precisa ser definido".
"Amava a França, defendia a agricultura", declarou, emocionado, Omar Kerkoudi, um admirador que foi às portas da residência do ex-presidente em Paris para homenageá-lo.
- Um animal político -
Jacques Chirac chegou à presidência francesa - sonho de vida para esse filho único de uma família burguesa parisiense - em 1995, depois de duas candidaturas malsucedidas (1981 e 1988) contra o socialista François Miterrand.
Eleito em 1995 e novamente em 2002, deixou o poder em 2007, com a saúde debilitada em razão de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido dois anos antes. Ele foi sucedido por Nicolas Sarkozy, por quem não manifestava o mesmo fervor que sua esposa Bernadette, apesar de pertencer à mesma família política.
O ex-presidente estava doente e não aparecia em público há anos, vítima de perdas de memória. A última vez que foi visto em um evento foi em novembro de 2014 no Museu Quai-Branly, em Paris, que leva seu nome desde então.
Frágil, mas sorridente, surgiu ao lado de um de seus sucessores, o socialista François Hollande. Ironia da história, o ex-chefe do partido Reunião pela República (RPR) havia declarado três anos antes que votaria em Hollande para a Presidência, em detrimento de Sarkozy, que buscava a reeleição.
Muito popular depois de deixar o poder, Jacques Chirac nem sempre teve o apoio de seus concidadãos. Após sua derrota em 1988 contra Miterrand, sua esposa Bernadette afirmou que "os franceses não amam meu marido".
O principal dano à sua imagem veio do campo judicial. Durante a Presidência esteve protegido pela imunidade, mas depois de se aposentar da política, teve que enfrentar a justiça. Em 2011 foi condenado a dois anos de prisão com suspensão sua pena pelo escândalo dos empregos fantasmas.
Chirac morava em Paris com sua esposa, Bernadette, em um apartamento às margens do Sena emprestado pela família do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri. Ele costumava passar suas férias no Marrocos.
O casal Chirac teve duas filhas, Laurence, anoréxica desde a juventude e falecida em abril de 2016, e Claude, que era sua assessora de comunicação.
* AFP